domingo, 21 de março de 2010

Capítulo 13 - Deja-Vù


13. DEJA-VÙ

Senti o peso do meu corpo sendo acomodado em uma superfície acolchoada. Não poderíamos estar no carro ainda, então, sem pressa nenhuma, lancei um comando de “abrir olhos” para o meu cérebro exausto. Algumas vozes começaram a brotar ao fundo da minha cabeça e reconheci a do meu pai, ralhando algum tipo de bronca com alguém. Percebi que Jake era o alvo do seu mau humor. Uma vez com 50% das minhas pálpebras abertas, tentei pronunciar alguma coisa, mas minha garganta não comportou mais do que um gemido mórbido.

– NESSIE!! – Jake voou de onde estava até próximo a mim, se ajoelhando ao lado do sofá – Que bom que você acordou! Como está se sentindo?! Está confortável?! Quer alguma coisa?! Sente alguma dor?!...

– Hmmm... – meu balido interrompeu sua avalanche de indagações

– Eu acho que são muitas perguntas por hora, Jake... – minha mãe disse, com uma voz tranqüila, e eu percebi que estava com a cabeça sobre o colo dela – Nessie precisa repousar.

Repousar?! Mas tudo que eu fiz durante os últimos dois dias foi repousar {Além de outras coisinhas...}!! E aquele mal estar, hein?! Que raio de sensação era aquela que me debilitava tanto?! Eu não estava acostumada àquilo, já que, é claro, nunca havia ficado doente... Por que logo agora eu tinha que iniciar minhas experiências de “quase humana”?! Acho que franzi minha testa demais por que, de repente, nove pares de olhos preocupados pousaram em mim.

– Está piorando, meu bem?! – minha avó acariciou o alto da minha testa – Minha nossa, ela está tão quente... Acho até que está mais do que Jacob!!

– É verdade – tia Aly veio conferir o julgamento da mãe – Talvez fosse melhor providenciar um banho frio...

Eu estremeci com a idéia. Já estava me sentindo congelar e aquilo não seria de nenhum modo agradável.

– N...não precisa! Isso não é nada, eu já estou melhorando. Vejam – eu consegui me pôr sentada ao lado de minha mãe

– Ah, “nada” não é bem a palavra para “isso”, Nessie... – meu pai trovejou, não com raiva de mim, claro, mas definitivamente irritado com algo que não poderia ser meu distúrbio digestivo – Com certeza é “alguma coisa”!!

Ele estava histérico e notei que os outros também tinham semblantes aflitos. Que confusão enorme era aquela, afinal?!

– O que você quer dizer, Edward?! – Jake arregalou os olhos e de repente eu não entendi sua expressão. Será que o que eu tinha era tão grave assim?! Terminal?! Meu estômago se embrulhou...

– Urg, Jacob Black, será que você sempre tem que ser o último a saber das coisas?! É tão óbvio o que está acontecendo, não percebe?!

– Não, não percebo!! Só o que eu percebo são essas caras espantadas que vocês estão fazendo e, sinceramente, isso já está começando a me deixar desesperad...

Do nada, ele se interrompeu, seus olhos perderam o foco e ele pareceu se dar conta de algo verdadeiramente assombroso. Meu pai ergueu as sobrancelhas como quem diz “finalmente” e, passados uns dois minutos de silêncio no recinto, Jake esbravejou:

– Temos que retirá-lo, imediatamente, antes que a coisa fique fora de controle!!

“Retirá-lo”?! “Coisa”?! Mas do que é que ele estava falando?! Não era do meu mal estar, com certeza...

– O que?! – tia Rosie interveio, chocada – Claro que não! De jeito nenhum!! Vamos deixar as coisas como estão, seus brutos!!

Aí é que minha cabeça deu um nó de vez!!

– Eu não sei, Rosie... – minha mãe disse, parecendo considerar as palavras antes de falar – é muito arriscado! Não sei se quero ver minha filha passar por tudo aquilo!!

– Então você prefere essa selvageria que seu marido e genro estão dispostos a fazer?!

– Não é nada disso... Ai, eu não sei mais o que dizer.

Aquele sentimento de alguém que está sendo poupada de algo que nem ao menos sabe o que é começou a me inquietar. Resolvi reclamar meus direitos na conversa.

– Vocês querem, por favor, me dizer o que está se passando aqui?! Eu já estou ficando louca com o desenrolar dessa discussão... Tá parecendo que eu sou uma bomba-relógio que vocês estão tentando desarmar.

– Jacob, faça as honras – meu pai praticamente ordenou – Afinal, você é o marido dela e o responsável pelo que está acontecendo.

Jake se colocou de pé num salto.

– Edward, eu não achei que precisasse me preocupar com isso... afinal, ela é uma vampi...

– Sim, ela é vampira, Jacob – papai disse, com a voz alterada outra vez – Mas ela também é humana e tão passível disso como qualquer pessoa! Céus, eu achei que, mais do que ninguém, você tivesse consciência disso, pelo amor de Deus...

– Vocês dois querem parar!! – eu berrei, depois me levantei. Foi o que bastou para todas as mãos virem a toda na minha direção, para me reter onde estava.

– NÃÃÃO, NESSIE!! – eles gritaram. Eu me sentei no susto e o efeito daquele movimento não foi muito agradável...

– Está bem, está bem... – levei a mão de leve à cabeça e afundei no sofá – Jake, por favor, me diga o que está havendo, e não me esconda nada, está ouvindo?!

Ele assoprou, então veio de volta até mim, pousando as mãos em meus joelhos largados. Seu olhar evidenciava alguém que não sabia como iniciar a próxima conversa.

– Meu bem – ele começou, receoso – nossa suspeita é de que você possa estar...

Pausa para o suspense. Eu me agoniei com aquilo.

– Que eu posso estar... O que, Jake?!

Ele segurou minhas mãos.

– Grávida!! – concluiu, pesaroso

Quêêê?!?! Que coisa mais ridícula era essa?! Haha, como se fosse possível eu estar grávida, sendo que faziam apenas dois dias desde que eu e Jake fizemos... bom... fizemos!

– Lamento te informar, Nessie – meu pai lançou uma resposta aos meus pensamentos {que horror...} – que, dentro da nossa realidade, esse tipo de coisa tende mesmo a acontecer dessa maneira, digamos... apressada!

Jake enterrou a cabeça nas mãos sobre meus joelhos, enquanto meu queixo despencava, na medida em que eu percebia que todos eles estavam falando a sério...

GRÁVIDA?! EU?!?!?!? Mas... eu não estava preparada para essa nova guinada na minha vida!! Jake e eu mal havíamos nos casado... Nós nem tínhamos uma casa ainda...

– Na verdade, vocês têm!! – meu pai, outra vez com o tete-a-tete mental – Nós compramos uma casa pra vocês em La Push, um dia depois do casamento. Não estávamos esperando que retornariam tão cedo, por isso ela ainda não está pronta para recebê-los. Terão de morar aqui provisoriamente. Sua mãe e eu viremos para a mansão também e Alice e Jasper ficarão no chalé.

– Já deu tempo suficiente para vocês planejarem isso tudo, pai?! – eu o encarei, ainda chocada demais para que minha voz saísse com o timbre normal

– Isso é só um plano B, filha! Acho que seu marido e eu concordamos que uma outra alternativa seja mais aconselhável...

Me lembrei das palavras que Jake usou um pouco antes. Ele estava se referindo à... meu bebê... quando disse “retirá-lo” e “coisa”!! Olhei pra ele, empreendendo com a maior intensidade que pude a minha revolta.

– Jacob Black, você estava seriamente pensando em matar o seu próprio filho?! É isso mesmo que eu estou entendendo?!

Ele não respondeu. Nem sequer ergueu os olhos na minha direção.

– Olhe pra mim e responda, Jake!! – gritei severamente, fazendo seu corpo estremecer em reação a minha voz

– Nessie... você não sabe os riscos que estão envolvidos. É muito perigoso levar adiante essa gravidez! Por favor me entenda, eu não posso, e nem quero, arriscar sua vida desse jeito.

Suas mãos vieram confortar meu rosto, ao mesmo tempo em que eu sucumbi em uma outra onda de incertezas. A cada nova explicação que ouvia, 1000 novas dúvidas surgiam em minha mente... Desde quando uma gravidez oferecia tantos riscos assim?! Em qualquer outro lugar, as pessoas estariam vibrando com uma notícia dessas. Mas não na nossa casa. Aqui, estavam todos realmente considerando aquela barbárie. Todos, menos tia Rosie... Ela claramente era contra aquela decisão. Mas, ainda assim, meus próprios pais e marido estavam unidos na intenção de destruir um ser indefeso que eu agora supostamente carregava no ventre.

– Não está nada decidido ainda, filha! É só uma das opções, se lembra?!

– Como assim, Edward?! Você está virando a casaca agora é?! – Jake se virou para fuzilar meu pai

– Jacob, você se lembra do que eu falei pra vocês quando os deixei no Hotel há dois dias atrás?! “Se cuidem!”... por acaso achou que eu me referia a facas ou cacos de vidro?!

– Não, mas...

– Agora não se trata de uma simples questão de escolher lados, e sim, de tomar a melhor decisão para todos. E isso inclui também o pequeno ser que está sendo gerado no interior da minha filha... que, por uma façanha do destino, vem a ser seu filho! Ou você está se esquecendo desse pequeno detalhe também?! Memória ruim essa sua hein...

– Você sabe muito bem que não é isso!! – Jake se abateu, provavelmente se dando conta de sua posição no quadro geral.

Meu pai rodou um pouco pela sala, depois veio até onde estávamos e tomou a minha temperatura.

– Carlisle, o que você acha?! Ela está com muita febre... Será que as coisas podem piorar até o amanhecer?!

– Não posso dizer ao certo, filho... – vovô coçou o queixo e depois olhou pra mim – Nessie querida, me diga exatamente o que está sentindo?!

– Além do choque, você quer dizer?! – eu perguntei de modo ríspido, com um sarcasmo que não direcionei a ele especificamente...

– Sim.

Todos os olhares novamente pousaram em mim, ansiosos, e eu me senti como um explosivo outra vez.

– Bom... – procurei descrever fielmente minhas sensações – Minhas pernas estão fracas, meu estômago está esquisito, estou meio enjoada e extremamente cansada... mas é só isso.

– Hunf, só isso... – Jake repetiu, insatisfeito com meu positivismo

– Sente alguma dor?! – vovó Esme pareceu tirar as palavras da boca de todos

– Não. Nada além do que eu falei mesmo.

– E você... notou alguma coisa diferente no corpo, como manchas ou hematomas?! – vovô insistiu

– Pra dizer a verdade, agora que você mencionou... Realmente, eu percebi uma alteração aqui na região do tronco – eu sinalizei o local

– Que tipo de alteração?! – minha mãe se alarmou

– Apenas algumas veias estavam um pouco evidentes. Nada de mais, mãe!

Se importa Nessie?! – meu avô perguntou, e eu entendi que queria examinar ele próprio a gravidade da situação.

Obedeci e, ainda sentada, levantei sem ver a regata preta até a altura do busto. Todos exclamaram diante de mim e eu então fiquei confusa. Só fui entender o motivo daquele espanto todo quando eu mesma olhei para o meu corpo e me deparei com a imagem impressionante de dezenas de veias roxas {muito mais do que antes} se cruzando em contraste com a minha pele alva. E isso não era tudo, havia agora também uma protuberânciazinha incomum e extremamente rígida na região do ventre. Pelo que me constava, minha barriga não estava daquele jeito da última vez que eu fiquei sem blusa, tanto que nem o próprio Jake percebeu nada. Como foi que ela mudou tanto em tão pouco tempo?!

Abaixei a blusa abruptamente e disfarcei minha preocupação.

– Nessie – Jake estava com aquela expressão de partir o coração outra vez – como foi que eu não vi isso antes, meu amor?!

– Relaxe, Jacob – tio Emmett interrompeu – você não é o único que se desliga do mundo quando o clima esquenta!

– Emmett!! – Aly o repreendeu

– Eu estou mentindo, por acaso?! – ele se fez de desentendido...

– Gente, não vamos perder o foco – tio Jasper pediu, solidário ao meu desconforto. Muito provavelmente, ele estava atenuando bastante as alterações de humor no cômodo, por que eu percebi que os ânimos até que estavam bem “tranqüilos” diante da situação de risco em que eles diziam que eu me encontrava... Já os tinha visto perder a cabeça por muito menos. Agradeci a ele com um aceno de cabeça e ele sorriu discretamente. Meu pai ignorou minhas constatações e endossou as palavras do irmão.

– Jasper tem razão, não é hora de fazer gracinhas! Precisamos nos concentrar em uma solução segura para Nessie... e... para o bebê.

– Isso mesmo! – mamãe se aliou a meu pai e essa mudança impacientou Jake

– Qual é, gente!! Eu não quero mesmo bancar o tirano... Mas nós todos já assistimos a esse filme e não creio que algum de vocês tenha se esquecido de como ele acabou!!

Suas palavras fizeram menos sentido para mim do que no começo. Do que ele estava falando?! Eu odiava ficar no vácuo daquele jeito, excluída dos acontecimentos...

– Sua esposa está confusa, Jacob! – meu pai sinalizou, descontente. Aparentemente, Jake havia ultrapassado um limite pré-estabelecido de conversação na minha presença.

Nunca imaginei minha família guardando segredos de mim... até aquele momento. Não era, exatamente, a melhor hora para descobrir que haviam realidades sendo ocultadas de mim pelas pessoas que eu mais confiava... Eu estava necessitando me sentir segura mais do que tudo.

Jake se virou lentamente para mim e não parecia muito satisfeito consigo mesmo.

– N-não é nada, meu amor... – ele mentia muito mal – Apenas memórias desagradáveis do passado, nada que valha a pena ser relembrado!

– Você não confia em mim para fazer meus próprios julgamentos a respeito, Jake?! – chantagem emocional às vezes tinha suas vantagens

– Não é isso!! – ele se alarmou – É que agora a prioridade é cuidar de você. Teremos muito tempo para conversar sobre o passado quando as coisas no presente se ajeitarem!

Ele queria dizer “depois que eles arrancassem meu filho de dentro de mim!”. Eu não podia nem sequer considerar aquela idéia hedionda...

– Alguém poderia então me esclarecer, já que meu marido se nega a fazer isso?! – bati pé firme. Não poderia deixar o assunto morrer...

– Nessie, querida – meu avô veio até mim – me permita então examiná-la um pouco melhor antes. Eu prometo que eu mesmo te contarei tudo depois, ok?!

Sua calma desviou todo o meu furor e eu não pude negar seu pedido paternal. Desmanchei minha expressão emburrada e lhe fiz sinal positivo com a cabeça. Ele me pediu permissão, depois me ergueu nos braços.

– Edward, Jacob e Bella, venham conosco. Esme, meu bem, fique aqui com os demais. Nessie não vai se sentir muito confortável com tanta exposição.

– Está bem, meu amor! – vovó se resignou, sem esconder sua preocupação

– Como assim?!? – Rosie protestou – Eu também quero ir junto! Sou tia dela...

– E eu! – Aly a acompanhou no protesto

– Emmett, Jasper, conto com vocês para conter suas respectivas namoradas! – vovô ignorou-as sem, contudo, perder a amabilidade

Nós cinco então deixamos a sala em um alvoroço feminino e nos dirigimos silenciosamente até o escritório dele, no andar de baixo. Os passos nos degraus da escada marcavam um ritmo urgente, apesar de ninguém estar andando depressa. Eu me senti sendo levada a uma sala de tortura, onde ao menor sinal de risco eles me abririam contra minha vontade para concretizar aquele intento maligno.

– Filha, por favor, ninguém faria nada contra sua vontade! – meu pai se defendeu, mas eu não lhe dei muito crédito... Os pais geralmente não ligam muito para a opinião dos filhos quando o assunto é “segurança”.

Chegamos ao cômodo.

– Bella, abra aquele armário ali e traga dois lençóis, por favor – Vovô pediu, ainda me equilibrando sem dificuldade nos braços – Edward, tem um colchonete ali em cima do mesmo armário... Estenda-o aqui na minha mesa, filho.

Feitas essas coisas, ele me colocou estirada em cima da maca improvisada, depois buscou sua maleta de utensílios médicos. Voltou até onde eu estava e acendeu uma luz fluorescente acima de nós.

– Tire a blusa por favor, querida! – ele me pediu com sua voz delicada. Eu não disfarcei meu incomodo devido ao fato de Jake estar presente. Ainda tinha algumas reservas quanto a fazer exposições do meu corpo diante dele, ainda mais na presença dos meus pais... Ali, não estávamos à vontade como no resort, ou na florest... interrompi imediatamente meus pensamentos, por causa do meu pai, e obedeci depressa, antes que aquele silêncio cedesse lugar a indagações. Vovô encostou o estetoscópio gelado na minha barriga e eu estremeci instintivamente, estranhando sua atitude. Até parece que ele precisava daquele aparelho para escutar o que se passava no interior do meu corpo. Mas, foi aí que eu me dei conta de que nem eu mesma escutava nenhum tipo de som, ou batidas, vindos do meu ventre... Ele pareceu frustrado quando se ergueu e retirou o aparelho dos ouvidos.

– Como eu suspeitava. As paredes do útero dela estão envolvidas por uma película protetora rígida demais para que se possa fazer avaliações mais aprofundadas... Só o que se pode afirmar com certeza é o que nós já suspeitávamos: Nessie está indubitavelmente grávida!

– Nossa! – Jake largou a exclamação carregada de sarcasmo. Ninguém ligou pra ele...

– Você vê algum risco eminente, Carlisle?! – meu pai perguntou, franzindo o cenho preocupado

– Bom... ainda é um pouco cedo para tirar qualquer conclusão... Essas veias alteradas devem indicar somente o intenso processo de multiplicação das células epiteliais, que farão a pele se elastecer. Não é nada grave... Minha teoria é de que, como Nessie é uma híbrida, sua constituição física seja melhor preparada para comportar um feto “especial”do que a de uma humana comum. Isso talvez seja um fator positivo.

– Talvez?! – Jake não deixou de perceber a ressalva de meu avô

– Como eu disse, ainda é cedo para afirmar. O que já dá para dizer com certeza matemática é que a evolução da gestação de Nessie é bastante acelerada... Até mais do que a de Bella. Eu estimo que o nascimento da criança será daqui a dois meses, dois meses meio no máximo.

Todos ficamos em silêncio diante daquela afirmação. Que espécie de gestação relâmpago era aquela?! Dois meses era um período insuficiente para se gerar um bebê saudável, eu pensei, mas me lembrei das palavras do meu pai na sala de estar: “dentro da nossa realidade, esse tipo de coisa tende a acontecer dessa maneira, digamos... apressada!”... Isso me lembrou por sua vez da promessa que meu avô havia me feito antes de virmos para o escritório.

Muito bem – eu interrompi o silêncio, vestindo minha blusa de volta – eu já consenti em ser examinada! Agora exijo explicações sobre o que se passou no passado. O que Jake quis dizer com “Já assistimos esse filme antes”?! Ele só poderia estar se referindo a minha mãe, é claro, mas... Ele mencionou algo sobre como as coisas acabaram?! Que eu saiba, estamos todos muito bem e felizes hoje... Não entendo o motivo de tanto pânico!

Todos eles encararam o chão sem saber o que dizer.

– Vovô!! – eu pressionei

– Eu sei que eu disse que eu mesmo iria te contar o que aconteceu Nessie, mas... creio que a pessoa mais indicada para lhe dar as respostas que você deseja seja Bella.

Encarei a figura petrificada de minha mãe, que suspirou sem vontade, ainda olhando para baixo. Meu avô sinalizou para meu pai, depois para Jake, em seguida os três se encaminharam para fora do cômodo. Eu os observei sair um a um, cada qual me lançando um olhar de compreensão, e a porta foi fechada. Mamãe foi até a escrivaninha e puxou a cadeira até que ficasse de frente para a mesa, onde eu agora estava sentada. Ela se acomodou no assento e deu um novo suspiro. Comecei a me preocupar com a insensibilidade das minhas exigências. Aquele, de repente, não parecia um assunto muito fácil de se tratar...

Seu olhar alcançou o meu, então ela tomou coragem e começou:

– Meu amor, eu sei que seu pai e eu te contamos uma vez que o seu nascimento foi um acontecimento mágico, apesar da minha vulnerabilidade como humana... Mas, agora eu vejo que não será possível sustentar essa mentira por mais tempo.

– Mentira?! – eu me alarmei com o tom de sua voz ao pronunciar a palavra. Ela parecia sofrer ao me fazer aquela revelação

– Isso... Mentira! Filha, nós escondemos de você durante todos esses anos as reais circunstâncias que envolveram todo o período da minha gestação, desde os primeiros dias, até o parto. Mas não nos julgue mal, fizemos isso porque não queríamos que você se sentisse triste, ou de alguma maneira culpada...

– Culpada?! – as repetições eram o reflexo do meu estado decrescente de espírito. Ela fez uma breve pausa, provavelmente para analisar quais palavras usaria dali pra frente.

– Nossas realidades, a sua e a minha, não distam muito uma da outra, filha. Eu também engravidei ainda em minha lua de mel. Fiquei tão extasiada com aquele acontecimento que não pude me conter de felicidade. Mas minha tranqüilidade durou pouco, por que tivemos que retornar as pressas para Forks.

– Porquê?! – perguntei, já devorando as unhas

– Seu pai não se removia da idéia de interromper a gravidez.

Eu arregalei meus olhos. Sua atitude e a de Jake foram iguais... Eu só não entendia a razão de tanto extremismo.

– Ele estava apenas tentando me proteger do desconhecido. Para ele, aquilo era inconcebível e representava um risco mortal para mim.

– E era verdade?!

– Com o tempo – mamãe pousou as mãos em minhas pernas – descobrimos que dar continuidade à gravidez seria, sim, fatal. Minha constituição física não era forte o suficiente para resistir às implicações da gravidez e do parto, e é a isso que seu avô se referiu a pouco. Eu me vi em uma emboscada cruel do destino... mas não tive dúvidas quanto a minha decisão de salvar você, independente das conseqüências. Me neguei a interromper a gravidez e me transformei então em uma bomba-relógio para sua família.

Me assustei ao ouvir minhas próprias impressões saindo de seus lábios. Era exatamente assim que eu comecei a me sentir lá em cima, com toda aquela conversa tensa sobre riscos.

– Seu pai entrou em uma depressão profunda. Eu nem conseguia olhar pra ele, sem me comover. Minha persistência o estava destroçando por que, pouco a pouco, eu comecei a sofrer os efeitos do meu estado: Anemia, fraqueza, dores... Cheguei ao ponto de ficar moribunda em uma cama, com todo o meu volume corpóreo concentrado quase que apenas no ventre. Foram dias de muita angustia... até que surgiu a idéia de me nutrir com sangue, ao invés de comida convencional, já que nada sólido parava no meu estômago.

“Eu apresentei uma melhora imediata e aos pouquinhos fui ganhando massa e cor outra vez. Mas isso não diminuiu a tensão ao meu redor, por que um belo dia, você se moveu alguns centímetros e fraturou uma costela minha. Era pânico atrás de pânico, incertezas, sustos, hematomas... Tudo que não deveria fazer parte de um momento tão especial como aquele. Mas eu já te amava demais e não me importava com meu sofrimento.

“Sua tia Rosie, até certo ponto, foi a única que me deu apoio a prosseguir com a gestação. Ficávamos juntas o tempo todo e ela me ajudava em tudo que eu precisava. Ela e eu, até aquela época, não nos dávamos muito bem... Mas a provação serviu de motivo para nos aproximarmos e ficamos amigas desde então.

“As coisas amenizaram um pouco quando seu pai escutou seus pensamentos dentro de mim pela primeira vez. Foi aí que seu coração se amoleceu e ele desistiu de lutar contra minha decisão e se uniu a nós duas, arrastando os outros com ele na mesma onda de apoio. Eu, agora, tinha tudo que precisava para levar adiante minha decisão...

“Como você já pôde perceber, as gestações nesta família não seguem o calendário humano. Então, aproximadamente três meses depois, o período da gravidez se completou e... nesse ponto... Todos os receios referentes ao desfecho dela se concretizaram. Nessie, eu sei que te dissemos que sua chegada foi em meio a algum sofrimento, mas muita comemoração. Eu gostaria de te pedir perdão por ocultar a verdade de você durantes esses anos. Mas nós não quisemos te expor à uma realidade tão chocante, até que você estivesse madura o suficiente para encará-la.

– Eu sou toda ouvidos, mãe – minhas mãos foram de encontro as delas, e meu coração se apertou com a expectativa de suas próximas palavras – pode me contar.

Seu olhar em seguida foi tão penetrante que praticamente invadiu minha alma.

– Dar a luz a você custou minha própria vida!

Meus olhos se fecharam e eu libertei um ar de tristeza com aquelas palavras, que eu relutantemente estive prevendo desde que ela iniciou a conversa com as palavras “mentira”e “culpada”.

– Seu pai não fez a minha transformação uma semana depois de seu nascimento, como lhe dissemos... Ela foi a cartada final para me resgatar da morte, enquanto eu expirava, coberta de sangue e vísceras. Ele teve que me abrir viva para te tirar, antes que você saísse por conta própria, rasgando as paredes do meu útero com os dentes. Parece estupidez, mas ele achou que assim eu sofreria menos, e eu não o culpo... Nenhum aspecto daquele momento foi agradável, a não ser quando ele te colocou em meu colo pela primeira vez e eu vi o quanto você era linda e perfeita. Depois disso, já fui sendo violentamente encerrada pela dor de meu corpo aberto e o veneno de Edward me invadindo. “

Houve um minuto de silêncio entre nós duas. Eu mal conseguia acreditar no que acabara de ouvir. Quantas coisas horrendas minha mãe sofreu para me salvar... Que esforço tremendo ela fez para me dar vida... Senti um vazio no peito e me contrai, enfiando a cabeça dentro das mãos e me rendendo a um choro compulsivo. Mamãe se levantou depressa e me abraçou com força.

– Viu, era justamente essa angústia que nós estávamos tentando evitar... – ela disse, compadecida – Eu queria que você pensasse o melhor de si, de sua existência. Sabia que você iria sofrer quando soubesse a verdade, por isso adiamos tanto esse momento.

Ela me confortou por mais algum tempo, então eu consegui me recompor um pouco. Ela ergueu minha cabeça e enxugou minhas lágrimas. Entre suas mãos carinhosas, meus lábios se moveram para pronunciar minha última pergunta:

– E quanto a Jake?! {soluços} Como ele se comportou diante disso tudo?!

Ela suspirou outra vez, mas não como antes. Foi mais como se achasse graça do passado...

– O coitado ficou em desespero, claro! Na época, as coisas estavam bastante tensas entre seu pai e ele, e meu estado só contribuiu para o clima piorar. Ele, assim como seu pai, não queria que eu levasse adiante a gravidez. Foi um sofrimento terrível pra ele me ver debilitada daquele jeito... E é por isso que está agindo desse jeito com você, meu amor. Ele não quer ver a história se repetir, só isso.

– Mas meu avô não falou que comigo será diferente, por causa da minha constituição física, ou sei lá o que...?!

– É, mas nada nos garante que você não irá passar por maus bocados... Seu avô apenas supôs, baseado em sua experiência. Eu quero crer que tudo ficará bem, como ele disse.

– Então você vai me apoiar?! – eu perguntei, enxugando uma última lágrima teimosa do rosto

– É claro, meu amor – ela tocou o alto do meu ventre – esse serzinho aí dentro precisa de nós agora. Vamos torcer para que ele não dê muito trabalho, mas... se der, nós estaremos aqui pra te apoiar filha.

Abracei-a com toda a minha força, radiante de contentamento. O esforço que empreguei me deixou um pouco fraca, então ela teve que me sustentar por alguns segundo até que eu recobrasse o equilíbrio na maca. Rimos juntas depois que eu me recuperei.

Ela me ofereceu sua garupa para subirmos de volta à sala. Mas, ao abrirmos a porta, encontramos meu pai e Jake sentados juntos nos primeiros degraus da escada. Eles se puseram de pé e Jake veio me tirar das costas dela, me pondo em posição de concha em seus braços.

– Está tudo bem?! – papai perguntou, acariciando a fronte de minha mãe

– Está, meu amor! – ela olhou pra ele, depois pra mim – Agora está!

Sem mais delongas, voltamos para o andar de cima. Ao chegarmos, os demais vieram até nós, cheios de dedos no agir e no falar, como seu eu fosse agora feita de vidro.

– Como esta se sentindo, Nessie?! – Aly e Rosie perguntaram ao mesmo tempo, ladeando Jake enquanto ele me levava de volta para o sofá

– Ótima, tias! Não precisam se preocupar com nada. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

– Eu já dei um feedback a elas – vovô mencionou – mas elas precisavam ouvir da sua boca pra acreditar, Nessie.

As duas olharam emburradas pra ele, e eu achei graça. Jake me deitou no sofá, mas eu me endireitei para ficar sentada. Já estava cansada daquela posição horizontal... Ele suspirou, depois se sentou do meu lado, oferecendo o corpo como apoio.

– Você já mudou de idéia a respeito do bebê?! – cochichei rancorosa, antes de aceitar seu apoio. Ele me olhou, aflito por meu ressentimento

– Por favor Ness, não me crucifique assim – seus olhos se apertaram – eu só estava pensando no seu bem. Me perdoe se fui rude.

Sua expressão me comoveu e eu respondi me recostando nele. Cada membro da minha família se acomodou nas proximidades de onde estávamos, uns no chão, outros nos pufs, outros nos braços do sofá mesmo.

Ficamos um bom tempo entretidos em conversas agradáveis e brincadeiras para descontrair o ambiente. Eles fizeram de tudo e mais um pouco para me mimar, me fazer sentir tranqüila {A eles próprios também, obviamente}... Mais tarde, tio Emmett colocou uma almofada dentro da blusa e nos divertiu com imitações baratas das mulheres grávidas que passavam na televisão. Obviamente, não houve mais espaço para planos macábros, ou discussões. Cedemos ao bom humor da reunião, até que a noite se adiantou a um ponto em que eu não conseguia mais me manter acordada. Pedi licença para me retirar e Jake me ofereceu o colo outra vez. Meus pais e tias nos acompanharam até o quarto de Aly, que nos abrigaria por tempo indeterminado a partir daquele dia.

– Tia Alice, isso não é justo – eu resmunguei – você vai ter que sair do seu quarto por nossa causa...

– Que besteira, Renesmee – ela sorriu pra mim – eu mal uso esse quarto! Você está agindo como seu eu precisasse dele pra dormir ou alguma coisa do tipo...

– É, mas...

– Sem “mas”!! Vocês vão ficar aqui e ponto.

Não pude dizer mais nada, as decisões já haviam sido todas tomadas sem nosso consentimento. Ela apenas fez as indicações dos locais de roupa de cama e banho e dos utensílios de higiene.

– Boa noite – eles nos desejaram, antes de sair

– Boa noite! – eu e Jake respondemos.

A porta foi fechada e o quarto ficou em silêncio. Jake me aconchegou na cama King size dos meus tios, depois foi até o interruptor e apagou as luzes. A claridade da lua adentrou o cômodo pela janela atrás da cama, me banhando até a cintura. Fechei os olhos e senti Jake retirando meus sapatos. Fez o mesmo com os dele, depois veio se deitar ao meu lado, calculando os movimentos para não balançar demais o colchão. Ele se deitou, depois seus dedos tocaram de leve o contorno do meu rosto e eu abri os olhos para fitá-lo.

– Eu sinto muito, Nessie – ele disse com uma voz fraca – pela minha atitude fria... sei que foi de uma covardia imperdoável!

– Está tudo bem, meu amor – eu acheguei o rosto até seu peito, me encolhendo nele – minha mãe me contou o que aconteceu e me disse o quanto você sofreu junto com ela... Vamos colocar uma pedra nesse assunto, está bem?!

– Se você diz que está tudo bem, então assunto encerrado – ele estalou um beijo em minha testa.

Eu já não estava mais com febre, por que senti um calor intenso emanando do meu corpo. O vento que soprou da janela foi um refresco maravilhoso para mim.

– Você... já pensou em algum nome para o bebê?! – ele perguntou, timidamente

– Não! – eu disse, pega de surpresa por esse detalhe – Na verdade, nem tive muito tempo pra pensar no assunto. Foram tantas informações em uma mesma noite...

Tentei buscar na memória nomes que considerava bonitos. A lista não era muito pequena, o que não tornava fácil a tarefa àquelas horas... Resolvi então seguir outro padrão, o mesmo adotado por minha mãe ao me batizar: Aglutinação de nomes. Mas, quais nomes eu usaria?! Alice... Rosalie... Bella... Esme... Não fui capaz de bolar nada a partir de nenhum deles! Só o que pesquei foi a repetição da letra “L” nos três primeiros...

L... L... L...

– Que tal – dei uma pausa, para avaliar bem minhas idéias – Líllian, se for uma menina?!

Ele considerou minha sugestão por alguns segundos, depois sorriu docemente.

– Líllian me parece um nome ótimo. Podemos chamá-la carinhosamente de Lilly, o que acha?!

– Perfeito!! – concordei satisfeita

– E se for menino?! – ele demonstrou um entusiasmo maior com essa possibilidade, lógico.

Hum, que nome eu escolheria se ganhássemos um menininho?!

Jacob, como o pai?! Não, acho que Jake não iria concordar com isso... Ele era do tipo que prezava pelo individualismo das pessoas. Edward, então, estava descartado também... Tentei o negócio da aglutinação dessa vez, só pra ver no que ia dar. Se minha mente cansada cooperasse, eu talvez pudesse encontrar algum resultado satisfatório. Jacob... Edward... Jaco... ard... cob... Ed... Jar... Hmm, hmmm...

– Já sei! – eu exclamei baixinho – mas você precisa prometer que não vai resmungar!!

– Ora, e porque eu faria isso?!

– Você já vai saber... Agora prometa!

– Está bem, eu prometo! – ele deu risada, curioso

– Eu fiz uma junção do seu nome com o do meu pai... E o resultado foi... – Fiz uma parada, só pra acentuar sua curiosidade

– Foi...?! – ele mordeu a isca

– Jared!

– Jared, Nessie?! – ele quebrou a promessa imediatamente, em protesto – Mas esse é o nome de um dos meus amigos, esqueceu?!

– Eu sei disso, e foi por esse motivo que te pedi para não resmungar, seu chato...

– Mas... não podia ser outro nome, meu amor?! – ele torceu a boca

– Eu já disse que foi uma junção do seu nome com o do meu pai. Jacob... Edward... Jared. Entendeu?!

Ele não se agüentou e bufou uma gargalhada.

– Nessie, Nessie... Você e sua mãe são idênticas mesmo...

– E então, o que você me diz?! – eu ignorei os parênteses e fui direto ao ponto

– Eu gostei de Lilly, caso seja uma menina. Mas Jared... Vamos fazer o seguinte: me dê um tempo pra eu me acostumar com a idéia, está bem?! Eu prometo que vou me esforçar...

– Hunf, você e suas promessas... Se você cumprisse alguma só pra variar, seria ótimo!

Ele me fez cócegas no pescoço e eu me retraí, voltando a posição inicial. Os risos que dei provocaram uma reação desconfortável em meu estômago e eu gemi. Que horror, eu tinha que tomar mais cuidado de agora em diante...

– Muito bem – ele se interrompeu, alarmado – hora de parar. Você precisa dormir, vamos deixar essa conversa pra outro dia.

– Espertinho... – eu disse, entre um bocejo

Ele se sentou e envolveu meus pés com o lençol, depois acomodou-se outra vez.

– Boa noite, princesa! – disse, me ninando com sua voz de mel

– Boa noi...

Nem consegui completar a frase e o sono me tomou por completo. O cansaço foi maior do que eu, e uma noite tranqüila embalou meus sonhos.

Não havia mais nada oculto sobre o passado. Não haviam mais segredos a serem revelados...

Um pequenino coração estava batendo em algum lugar do meu ventre, eu quase fui capaz de sentir...

Uma vidinha que era o fruto do meu amor.

Do nosso profundo e genuíno amor...

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