segunda-feira, 29 de março de 2010

Capítulo 21 - Não Pode Terminar Assim


21. NÃO PODE TERMINAR ASSIM

– Eu entendo, J... Mas é que se trata de uma questão urgente, não temos todo esse tempo disponível...

– Diz pra ele que nós pagamos o dobro pelo serviço, Jazz!

– Um momento Aly... – Jasper parecia impaciente – ... Sim, estou escutando J. É, eu faço idéia! Acontece que precisamos disso imediatamente, é uma questão de vida ou morte! Você sabe que será bem recompensado se der prioridade a esse servicinho...

Edward andava pra lá e pra cá enquanto Jasper falava ao telefone, parecendo querer tomar o aparelho das mãos do irmão a cada palavra que ele dizia. Do meu lado, Bella fazia uma leitura do semblante do marido e começava a ficar ansiosa. Se eu não tomasse logo uma providência, ela iria deslocar meu ombro sem perceber.

– O que está havendo Bells?! – sussurrei no seu ouvido – Quem está na linha com Jasper?!

– J. Jenks, um velho conhecido – ela me disse, mastigando as palavras por causa da inquietação – Ele trabalha na área de documentação, tem servido aos Cullens já há algum tempo. Foi com ele inclusive que nós conseguimos a certidão de casamento para você e Nessie.

– Ah sim, você quer dizer “falsifica documentos”?! – eu perguntei, com um tom de reprovação. Ela me lançou um olhar condescendente.

No entanto, antes que tivesse tempo para pronunciar a confirmação desnecessária, Jasper encerrou a ligação e virou para nós, massageando a têmpora como se realmente sentisse enxaqueca.

– Eu sinto muito, Edward... – ele se dirigiu desapontado para o irmão – Você ouviu, ele não tinha como fazer o serviço no nosso prazo.

Edward assoprou em concordância. Depois, vendo que todos aguardavam um parecer mais detalhado sobre o que se passava, buscou uma poltrona próxima e sentou-se nela, olhando para cada um de nós com uma cara desgostosa.

– Não é possível conseguir 13 passaportes em menos do que três semanas, e nós não temos condições de deixar tanto tempo passar...

– Ele não abriu uma exceção pro Jasper?! – Bella perguntou incrédula – Qual é, esse cara não pode ter outros clientes como ele. Quer dizer, quem hoje em dia oferece 50 mil dólares por um serviço desse tipo?!

– Ele abriu sim uma exceção, meu bem... O prazo no começo da negociação era de dois meses! – Edward informou

– Há, porém, uma alternativa, – Jasper disse, ponderando as palavras e com a mão no queixo – se concordarmos em diminuir o tamanho da encomenda para 3 unidades ao invés de 13!

– Mas esse número não nos adianta de nada! – Jared replicou

– Adianta... – Emmett interferiu – ...se viajarmos em menor número!

– Separar o grupo outra vez?! – Seth se mostrou perturbado com essa solução – Mas eu pensei que isso estava fora de questão, dado o nosso incidente em Portland?!

– A situação agora é bem diferente, não temos mais nada a perder dessa vez – Rosalie disse, depois se virou para Jasper – Em quanto tempo ele pode fazer o serviço se forem 3 passaportes?!

– Ele mencionou 4 dias, mas se eu insistir um pouco nessa nova opção, ele pode baixar para 3, ou até 2, quem sabe...

– Continua sendo um prazo incômodo – Edward falou, contrariado – mas infinitamente melhor do que três semanas. Não temos outra escolha, senão aceitar.

– Nesse caso então, os Quileutes ficariam aqui em Forks, enquanto que eu, nossa família, Jacob e os bebês seguiríamos para a República Checa ao encontro de Renesmee – Jasper estabeleceu os detalhes.

Meus companheiros não pareceram convergir em uma única opinião sobre a situação declarada. Sam, Quil, Zach e Leah demonstraram não ter objeções, enquanto que Seth, Paul, Jared e Embry pareceram dispostos a protestar. Meu pai e Rachel permaneciam imparciais. Eles ficariam igualmente tensos tanto indo, como não indo a essa viagem.

Em termos de resolução, eu estava muito abaixo do padrão requerido... Imóvel estava e imóvel permaneci, até que a voz inflamada de Rosalie clamou por uma decisão final.

– E então, vai ser assim ou vai ser do outro jeito mais demorado?! Fala sério, de vocês quatro que estão emburrados, Seth é o único que não está só se lamentando pelo fato de perder um passeio internacional...

– Olha aqui, sua loira antipática... – Paul já ía partir pra cima da garota, mas foi detido pelos companheiros

– Isso não tem graça, Rosalie! – ralhei pra ela, que me lançou um olhar insolente

– Nossa, que bom que você resolveu participar, Jacob querido! Será que daria então para tentar enfiar um pouco de razão na cabeça desses seus amiguinhos?! Agora não é hora de se preocupar com outra coisa que não seja o bem estar de Renesmee...

Apesar de desaforado, eu não me senti em posição de contestar seu pedido. Ela estava certa! E, apesar de muito necessária, contar com a ajuda deles naquele momento significaria um atraso lastimável ao resgate da minha Nessie. Se já me machucava pensar em mais 2 ou 3 dias sem tê-la junto a mim, imagine então esperar por 3 semanas... Depois de tanto entusiasmo, eu já estava até me sentindo um pouco menos moribundo. Meus músculos já não formigavam tanto e meus sinais vitais voltavam a entrar em harmonia comigo outra vez. 21 dias era tempo demais, não poderia arriscar uma nova recaída... Morreria se tivesse que enfrentar outra onda de depressão, e ainda mais longa do que a primeira! Tinha que manter a pequena chama de esperança acesa. E não só isso, Gabriel inclusive poderia facilmente escapar pra outra locação com Renesmee nesse meio tempo...

– De jeito nenhum – emendei meus pensamentos com minha fala aos garotos – vocês vão ter que ficar aqui dessa vez, amigos. Tentem compreender, não há condições de esperar tantos dias. Sinto desapontá-los, mas está decido: vamos só eu, meus filhos e os Cullens!

A loira pareceu surpresa com minha firmeza, mas eu me senti estranho com tanta eloqüência. Minhas cordas vocais deviam estar enferrujadas demais, por isso me custou um pouco falar três frases inteiras.

– Esperem um segundo... – Alice começou a fazer aquela cara vazia de quando está tendo uma premunição. Dois segundos depois, demonstrou um renovo em seu humor.

– E...?! – Emmett deu pressa à garota

– Ótimo, parece que nosso amiguinho vai disponibilizar mais 2 passaportes! – Alice bateu palminhas, arrancando júbilo de alguns dos garotos – Quando Jazz retornar a ligação, ele vai apresentar a nova proposta. O custo vai sair um pouco maior do que 50 mil, mas pelo menos vamos ter os 5 documentos, e em 2 dias!

– Essas são notícias excelentes! – Carlisle vibrou – Jasper, retorne logo a ligação filho, o tempo está correndo.

O rapaz obedeceu imediatamente, se retirando para um outro cômodo, acompanhado por Alice e Edward. Quando eles saíram, percebi que eu estava no centro dos olhares Quileutes.

– E então Jake, quais de nós irão compor a dupla?! – Embry foi o mais apressadinho, se colocando em destaque na frente dos demais – Com certeza, o mais forte do grupo vai estar dentro: Eu!

– Hunf, quem te iludiu colega?! – Jared debochou – Você só é o mais forte do grupo em uma coisa: Flatulênc...

Embry se pendurou no pescoço do garoto antes que ele terminasse a frase embaraçosa. Eu não estava com ânimo para aquela ceninha sem graça e tremendamente imatura deles dois... Pra minha sorte, Sam interviu, separando-os em meio a repreensões duras antes que se embolassem no chão da casa feito dois retardados. Pelo andar da carruagem, creio que eles perceberam que minha cara fechada já era resposta suficiente, então se amuaram no canto outra vez.

– Se você me permitir, eu gostaria de dar uma sugestão prática Jake! – Sam pediu, após cessada a baderna, e recebendo minha afirmativa, continuou – Seria mais seguro para todos se as matilhas permanecessem unidas... Para tanto, você levaria Seth e Leah nessa viagem, e o restante ficaria comigo na reserva. Teríamos, desse modo, dois grupos em equilíbrio de forças e suficientes para combater aqui ou lá, a depender do que aconteça...

– Sam está coberto de razão – Emmett concordou animado – Eis a sugestão mais sensata, não concordam?!

– Sim! – Rosalie, Esme, Bella e Calisle disseram em uníssono

– O que você acha, Leah?! – perguntei fracamente

– Não que eu esteja louca de vontade de ir para Karls... sei lá onde – ela torceu o nariz – mas essa é a melhor solução. Eu aceito, pode contar comigo Jake!

Agradeci com um olhar, depois me virei para Seth.

– Você nem precisa me perguntar, amigo – ele se antecipou – Eu estou dentro! Te ajudar e ainda poder ficar perto da minha Lilly... é bom demais pra recusar!

Sua espontaneidade me causou certa alegria, um sentimento que já estava quase esquecido dentro de mim. O garoto me estendeu a mão para um aperto, que eu retribuí prontamente.

– Nós vamos trazê-la Jake, já está no papo!

Procurei me encher daquela verdade. Fui até capaz de lançar um sorriso fraco pra ele... Mas naquele ponto, a dor ainda era forte no peito, insistindo em tentar sufocar minhas esperanças na medida em que elas cresciam. Bella percebeu minha luta interior e me sugeriu descansar um pouco no quarto, alegando que tanta ansiedade assim não me faria bem. Aceitei, afinal ela devia estar certa. Aliás, ela era a pessoa mais competente ali para me aconselhar a respeito do que fazer sobre o meu sofrimento.

Fui pro andar de cima sozinho, num caminhar demorado e contrito. Apesar de uma luz estar começando a brilhar no fim do nosso túnel, era difícil me animar totalmente, quando a cada passo que eu dava, a imagem da minha Nessie ganhava forma em minha imaginação com uma nitidez hipnotizante e cruel. Nos últimos degraus da escada, o oxigênio foi ficando escasso em meu cérebro, provocando uma vertigem emocional degradante.

No corredor, perdi os eixos de vez e deslizei na parede, derrotado pelas lágrimas que me levaram ao chão. Não sei se era a saudade, ou o ódio, ou se sentia pena de mim... Mágoa por minha falta de perseverança. Provavelmente era tudo isso junto, com uma pitada de impotência pra completar.

Como naquela casa era impossível um turbilhão daqueles passar despercebido, não demorou muito até que um par de mãos frias viesse me conter com ternura.

– Bella, eu... – adiantei um pedido de desculpas por puro reflexo, mas a surpresa que encontrou meus olhos quando eu os ergui me fez calar no ato.

Não era Bella na minha frente... Era Rosalie quem estava me oferecendo amparo. Eu travei diante dela, emboscado pela sua atitude inesperadamente gentil para comigo. Foram necessários alguns segundos mais para eu ter certeza de que não estava tendo uma alucinação {segundos estes que ela aguardou com uma tolerância admirável}! Por fim, cedi à sua solicitude e nós dois juntos completamos silenciosamente o trajeto até o quarto de Alice, onde meus bebês já estavam de volta, dormindo finalmente em paz.

A janela aberta alvoroçava parte do voal branco da cortina, quase atingindo o berço. A garota se prontificou para prender o tecido com uma corda, enquanto eu me dirigi zonzo até a cama, forrada ainda pelas colchas. Me atirei com tudo no colchão, que por sorte não rangeu mais alto do que um zunido de mosca, e acompanhei sonolento a investida dela até meus filhos. Ela apenas se certificou de que estavam confortáveis, ajeitando as cobertas envolta deles.

Feito isso, se virou serena para mim, um semblante que não era nem um pouco comum a sua natureza ríspida. Meu inegável espanto deixou-a relutante, mas então ela se aproximou da beirada da cama e se deixou ficar um tempo, me observando pegar no sono aos poucos.

Não... se coloque em risco quando encontrar com ele, Jacob! Por favor, tome cuidado! – foram as últimas palavras que eu escutei, antes de ser engolido pela escuridão do sono profundo.

A inconsciência provavelmente não iria me esclarecer o propósito daquelas palavras, nem daquela súbita bondade que a levou a se compadecer de mim tão mansamente. Ela, por certo, se referia ao meu gênio explosivo e inconseqüente, que poderia comprometer o sucesso da nossa missão. Se fosse esse o caso, creio que não me encontrava em posição de contestar {outra vez ela detinha a razão}, porque eu teria, sim, que me controlar muito para não ceder à bravura tola que sempre impulsionava o amante com sua espada direto à boca do dragão, naqueles contos medievais.

*apaguei*

...

– Jake?! Jacob, vamos lá, acorde! Você está dormindo a mais de 36 horas seguidas...

Nem percebi direito o momento em que tinha conseguido dormir. Aquele meu sono foi tão... cego... Sem imagens, sem sons, sem impressões! Apenas um corpo exausto, esquecido no vácuo sem fim. Estranho, temi tanto a ocorrência de um bombardeio psicológico como de costume nessas minhas ocasiões de melancolia... Verdadeiramente estranho!

Entreabri os olhos e identifiquei vagamente o contorno da cabeça de Bella {dessa vez era ela...}, escurecida pelo raiar do dia atrás de seu corpo. Mas apesar disso, a claridade que vinha de fora era pouca, deixando a maior parte do quarto em penumbra.

– Vamos, seu molenga... – ela me puxou pra cima, me deixando sentado no colchão. Despenquei de volta no exato segundo em que ela me largou – Ah, qual é Jake?! Você vai nos fazer perder o vôo com essa preguiça!

Sua exclamação me sobressaltou instantaneamente.

O quê?! – grasnei, após me levantar tão aturdido que quase bati minha testa na dela – Que vôo?!

Bella deu um muxoxo, depois se dirigiu ao closet, virando as costas para mim e meus olhos esbugalhados.

– J. Jenks é um homenzinho muito volúvel... Já estava fazendo Alice perder a paciência, com tantas mudanças em suas restrições! – sua voz veio abafada do outro cômodo – No final das contas, ele parecia ter medo demais de Jasper para manter os empecilhos que vinha colocando...

– Não entendi ainda?! – esfreguei meu rosto, uma leve sensação de que ainda estava dormindo motivando minha desconfiança

– J adiantou a entrega da nossa encomenda em um dia... – Bella disse, surgindo do closet e me atirando uma muda de roupas limpas – Ou seja, vocês cinco já estão habilitados para viajar pra fora do país. Agora vá logo tomar banho, estaremos de saída em 30 minutos.

Me ergui da cama e, boquiaberto ainda, me dirigi vagarosamente ao banheiro da suíte. Antes, porém, me virei para ela, vacilante.

– Bella, eu estou me sentindo estranho... Você por acaso não me medicou sem que eu percebesse, não foi?! Tenho a impressão de que ainda estou dormindo... Podia jurar que Rosalie foi gentil comigo, quando eu vim me deitar...

Minha amiga sorriu, tranqüila.

– Ai Jake, não seja tão dramático. Rosie se preocupa com todos, inclusive com você. Ela só não expressa de uma maneira muito convincente às vezes... Mas ela deseja o seu bem tanto quanto qualquer um de nós.

– Essa é novidade pra mim... – balbuciei

– E eu nunca te medicaria escondido, seu tonto... Mais alguma dúvida?! Podemos dar procedimento?! O relógio está correndo!! – ela sinalizou um relógio imaginário no pulso, depois me empurrou pra dentro do banheiro e fechou a porta – Te espero lá embaixo, não demore!

Como instruído, não demorei a me juntar aos outros no andar inferior. De imediato, notei a ausência de 60% do nosso “quórum” habitual.

– Onde estão meu pai, minha irmã e os garotos?! – Perguntei

– Ah, muito bom dia pra você também, bela adormecida! – Emmett tinha que falar alguma coisa... Já tava demorando.

– Voltaram para La Push ontem a noite! – Alice me informou – Queriam se despedir, mas você estava dormindo que nem uma pedra...

– E quanto a Leah e Seth?!

– Já ligaram, estão vindo para cá... Tiveram que providenciar uma bagagem! – Edward disse

– “Insistiram” em providenciar uma bagagem... – Alice salientou, ranzinza – Eu disse que tínhamos roupas de sobra aqui!

– Você precisa colocar nessa sua cabeça que nem todo mundo pode ser sua marionete, irmãzinha.

– Quer levar um tapa, Edward?! – ela ameaçou. Ele fez que não com a cabeça, satisfeito pela sua provocação ter surtido efeito – Ótimo, então cale a boca e prepare as cadeirinhas dos gêmeos no Porsche de Nessie. O Acura e o Aston já estão lotados...

Acho que ela percebeu meu olhar conflituoso para os três veículos.

– Nem precisa fazer essa cara, Jacob – disse energicamente – Não vai ter “roubo de carros” dessa vez, nós vamos desembarcar com os nossos em Praga. Sabe quantas escalas nós vamos fazer?! Eu devia te fazer pagar todos os impostos, só pra você parar de ser tão “certinho”...

– É pra cobrir esse tipo de despesas que vocês têm tanto dinheiro! – rebati, sem muita empolgação.

Em questão de cinco minutos, Leah e Seth atravessaram a cortina de árvores ao redor da propriedade e se uniram a nós, que já os aguardávamos no jardim. Terminamos de nos organizar o mais rápido possível, então Rosalie me entregou o pequeno Jared nos braços. Durante os últimos dias, eu acabei por adotar um comportamento em que, ao invés de encarar as pessoas de frente, eu as focalizava de lado, pelos cantos dos olhos. Essa tentativa ridícula de fugir de julgamentos não só era inútil, como deveria estar provocando certa impaciência em quem se dirigia a mim. No entanto, mais uma vez minha mediocridade foi tolerada por um discreto sorriso da garota. Devia ser a falta de costume ainda, mas aquela afeição repentina dela já estava começando a me assustar.

Ajeitei meu filho na cadeirinha. Seus olhinhos {agora cor de granito} me vasculhavam, curiosos, enquanto eu prendia o sinto em volta dele. Esme fez o mesmo com Lilly na cadeirinha ao lado. Uma das únicas alegrias duradouras em meu coração naqueles dias era ver como eles dois estava crescendo rápido e bem, apesar das adversidades... Naquele frio ártico que estava fazendo, os pobrezinhos estavam soterrados por roupas e casacos que praticamente os imobilizavam, ocultando parte de seus rotinhos rosados.

Tudo pronto, entramos nos veículos e demos partida no comboio. No Porsche, fomos eu, meus filhos, Bella e Edward. No Acura, Jasper, Alice, Emmett e Rosalie. No Aston por fim, Carlisle, Esme, Seth e Leah.

As passagens estavam com hora marcada para as 11:00 am. Escutei Edward comentar que faríamos duas escalas, antes de pousar finalmente em Praga e seguir para os arredores de Karlstejn, que ficava a uns 30km da capital. Segundo ele, o lugar era de uma beleza medieval/gótica bastante atraente, e o clima e altitude eram muito favoráveis a um estilo de vida recluso. Eu não estava muito interessado em detalhes turísticos da viagem no momento...

Nosso vôo para Nova York {a primeira das escalas} saiu com meia hora de atraso. Alice, Jasper, Emmett e Rosalie seguiram o protocolo clandestino mais uma vez. O restante de nós fomos liberados para viajar normalmente. Estranhei bastante a primeira classe daquela companhia aérea... Muito diferente das coisas que eu via nos filmes. Parecia haver uma superlotação de passageiros, e o serviço e organização eram semelhantes aos anunciados na classe econômica. Edward e Bella deram a sorte de se sentarem juntos, mas Leah ficou no extremo norte da cabine, Seth ficou duas fileiras atrás de mim e Esme, três a frente, com Jared nos braços. Minha Poltrona ficava entre Carlisle na janela e uma senhora elegante que usava os óculos como passadeira e cheirava a couro, no corredor. Ela estava viajando com o marido, que estava na fileira vizinha. Um senhor muito bem vestido em seu terno azul marinho, cujos fios de cabelo sofreram a influência da gravidade {saindo do topo da cabeça para o queixo em forma de barba}. Ela ficou encantada com minha Lilly, que estava entretida com os próprios dedinhos no meu colo.

– Oh, que criança adorável!! Howard – ela cutucou o marido, que se inclinou para ver – Não é o bebê mais lindo que você já viu?! Olhem só essas bochechas... e esses cachinhos ruivos formidáveis! Parece um anjinho! E que olhos... verde-esmeralda, absolutamente encantadores! Quantos meses ela têm, seis?! Sete, talvez?!

– Mais ou menos isso! – respondi, com um sorriso tenso e aliviado pela tonalidade na íris da minha pequena estar relativamente comum dessa vez

– Verdadeiramente linda! Você é o pai dela?!

– Sou.

– Tão jovem... Mas isso é comum hoje em dia, creio eu. E onde está a mamãe dela?! Aposto que é uma jovem muito bonita!

Incrível como gente rica pode ser inconveniente as vezes. Lutei para não demonstrar o abatimento que a pergunta me fez sentir. Ao invés disso, fingi entusiasmo.

– Ela é sim, muito! Estamos indo encontrá-la, ela está fora do país à trabalho...

Oh, que curioso! – a senhora não escondeu um estranhamento à minha afirmação. Ainda bem que não dei motivos para que desconfiasse da mentira. Ela desconversou, parecendo notar, no entanto, que o assunto me provocava certo desconforto {minha atuação era triste} – Howard e eu temos três netinhos pequenos: Phillip de 3 anos, Louis Gerárd de 2 e Monique de 2 também. Eles moram na França, meus dois filhos Alfonso e Steven se mudaram com as esposas para lá há 5 anos, à negócios também. Eu me chamo Kathline, a propósito...

Ela então desatou a falar de toda a vida dela... Estranho como algumas pessoas se sentem a vontade em se abrir para completos estranhos, como se a intimidade fosse um produto à venda. Seria muito rude não fingir interesse nas coisas que ela vomitava... Pra meu alívio, Carlisle se sensibilizou comigo e se envolveu na conversa, me dando a oportunidade de reduzir minha participação gradativamente a zero.

Depois de meia hora de falatório, a senhora finalmente se cansou e recolheu-se à leitura de um romance grossíssimo, que até intimidaria qualquer interrupção. Lilly agora estava dormindo recostada no meu corpo e Carlisle permanecia imóvel como uma estátua {não era difícil pra ele}! Eu estava bem abastecido de descanço, não precisaria fechar os olhos tão cedo.

Num dado momento, o Dr. Cullen sentiu necessidade de me atualizar com suas descobertas científicas recentes.

– Eu andei pesquisando um pouco, após o nascimento dos gêmeos. Sabia que a gestação das lobas é de dois meses também, Jacob?!

Esse era o resultado de muito tempo livre e pouca coisa para ocupar a mente... Olhei fundo em seus olhos dourados e não deixei de externar minha insatisfação com sua investida naquele tópico em particular.

– É verdade – ele continuou, como seu eu na verdade tivesse ficado bestificado – Acho que a natureza de “transformo” aproxima seu metabolismo humano ao dos lobos em todos os aspectos...

Eu balancei minha cabeça afirmativamente, de um jeito desatento. Achei que concordar com aquele absurdo seria o melhor remédio, já que ele não pareceu receber minha mensagem!

– Sabe o que mais eu descobri?! Dessa você vai gostar, tenho certeza... – seu tom de voz ficou menos excêntrico

– Não, o quê?! – voltei minha atenção para ele, desistindo de afundar a cabeça na poltrona

– Uma vez que um lobo escolha sua parceira, os dois permanecerão juntos por toda a vida! – ele disse, erguendo uma sobrancelha indicadora para mim.

Nesse ponto, ele conseguiu despertar minha surpresa... Senti meu rosto corando em resposta aquelas palavras. Achei bonita sua tentativa de me animar, eu realmente estava precisando ouvir alguma coisa positiva a respeito da minha natureza... Abri um sorriso espontâneo para ele, que dessa vez demonstrou decifrar minhas feições.

– Eu penso que você já deve ter escutado muitos conselhos ao longo desses dias todos, não?!

– Sim, muitos... – suspirei – É pena eu não estar correspondendo às expectativas como gostaria... Talvez fosse diferente, se eu não fosse tão fraco!

– Não se lamente Jake, ninguém está te julgando por ser “humano”! – ele sorriu – Cada um de nós passou por momentos difíceis também, momentos de escolhas erradas inclusive... Mas você não teve escolha, foi enganado. Creio que nem preciso te dizer isso, não é?!

– Pode ser...

– No entanto, o momento de tomar decisão ainda está aguardando. Não se prenda ao passado, tendo tanta coisa em jogo pela frente.

– Você deve saber então que é difícil unir forças para lutar pela minha eternidade com quem eu amo, não é mesmo?! – perguntei retoricamente. Ele franziu a testa.

– Então mude o foco. Não perca mais tempo se preocupando com eternidade... O “para sempre” já te pertence, filho. Lute pelo “agora”! Estabelecer essa prioridade cronológica é o primeiro passo...

Abaixei a cabeça, o cheirinho suave dos cabelos de Lilly infiltrando em minhas narinas. Eu estava sendo muito mimado, o destino parecia me cercar de pessoas sábias e cheias de boa vontade, embora eu insistisse em manter o desanimo. Acho que estava me esquecendo quem realmente era a vítima nessa história toda.

– Se você deixar, nós iremos te ajudar! Mas você vai precisar fazer a sua parte, está bem amiguinho?!

– Você tem razão, Carlisle! Vocês todos têm... – falei com decisão – Já chega de bancar o coitado... Renesmee é quem precisa de nossa atenção agora, não eu! Sinto muito ter permanecido tanto tempo inoperante... Vou mudar de atitude, já estou farto de revolver a dor dentro do peito!

– Excelente Jake, fico muito feliz! – seus olhos brilharam {só faltou o coro de “aleluia” ecoar} – Não precisa ser instantâneo... você têm mais algumas horas para botar as idéias de volta aos seus respectivos lugares. Ainda assim, é bom ter o velho Jacob de volta, dá um novo gás a nossa tarefa...

Até ele estava vindo com esse papo de “velho Jacob”... Creio que era notória o meu distúrbio bipolar, não só para Edward, como para todos.

– Obrigado por não desistir.

– O prazer foi meu! Foi nosso, na verdade... – ele piscou – Agora relaxe. Falar demais pode te causar náuseas, você não tem costume de andar de avião...

Mais meia hora e pousamos em Nova York. Nos reagrupamos com os demais em uma sala de embarque, onde passamos pelo menos 40 minutos aguardando o vôo para a Alemanha, nossa segunda parada antes de Praga.

Hmmm, que ótimo... Você está melhor! – Edward exclamou, me dando dois tapinhas no ombro – Se eu soubesse que a cura da sua depressão era falar sobre lobos, teria te chamado para assistir ao Discovery Channel, ao invés de ter gasto tanta saliva...

Edward, Edward... sempre irônico! Bella percebeu nossa conversa e se pôs do meu lado, sorrindo feito uma boba. Era esse tipo de atenção que eu não queria receber agora. Detestava me sentir acuado pela satisfação das pessoas por minhas melhoras. Seria tão bom se aquilo passasse sem ser notado...

O segundo vôo foi tranqüilo, apesar de um pouco turbulento no começo. A primeira classe dessa vez foi como eu havia imaginado, cheia de conforto e, principalmente, privacidade. Fiquei receoso, porém, de me dirigir ao banheiro, ou a outra cabine. A aeronave era tão grande que poderia evacuar uma cidade inteira se fosse necessário... Era fácil se perder por ali, até mesmo para alguém como eu. Os Cullens Jovens {com exceção de Edward e Bella, que estavam aqui em cima, “tricotando” sem parar} deveriam estar agora explorando os incontáveis compartimentos de carga do imenso avião. De onde estava mesmo, pude desfrutar de uma viagem sossegada e até assisti a um bom filme.

Nesse intere, reservei também um tempo para avaliar meu equilíbrio psicológico recém atenuado. Era bom me sentir seguro outra vez. Era bom saborear um pouco de confiança, pra variar daquele quadro de asfixia sentimental teimoso. Já até sentia mais latente a esperança do reencontro com minha Nessie... Em breve, ela estaria de volta aos meus braços, sã e salva, e eu veria o quanto me preocupei a toa.

Em breve...

A Alemanha nos recebeu nublada, um cartão de boas-vindas nada acolhedor... Não queria nem pensar em ficar ali mais do que o tempo necessário. Só de me lembrar que aquela era a terra natal do meu inimigo, já me subia um gosto ruim na boca. Gosto de sangue, de vingança...

Para o meu azar, esse segundo intervalo de espera foi bem mais longo que o anterior. Culpa do mal tempo, como sempre...

Enfim, embarcamos no nosso terceiro e último vôo, com destino a “cidade das 100 cúpulas”, como dizia no panfleto que recebi de uma aeromoça. Ao contrário do que pensei, o sono deu cabo da minha consciência logo nos primeiros 15 minutos da viagem. Quando abri os olhos de volta, Esme cutucava cautelosamente o meu braço, enquanto uma densa movimentação se dirigia à saída atrás dela.

– Hora de ir, Jake! – ela anunciou

Meus ouvidos começaram a zumbir assim que me levantei e eu senti dor de cabeça. Seth e Leah também tiveram a mesma reação, tapando os ouvidos com força e espremendo as feições do rosto.

– É a altitude... Vocês se acostumam com o tempo! – Carlisle nos tranqüilizou

Do lado de fora, a noite já cobria tudo ao redor... Havíamos levado, aproximadamente, 9 horas entre Forks e Praga, então imaginei pelo costume que deveriam ser por volta de 8 da noite.

– Errado, Jake... São quase uma e meia da madrugada! – Edward me corrigiu, e eu levei um baque.

“Fuso-horário”... relembrei mentalmente desse pequeno, mas importante fator. E ainda tínhamos que pegar a estrada até a cidade que seria nosso destino final. Será que encontraríamos instalações ainda abertas àquela hora?!

– Você poderia até se preocupar com isso, se estivéssemos ainda em Forks... – ele me corrigiu outra vez {sua especialidade} – Mas Karlstejn é uma cidade turística, as pousadas mais simples recebem hóspedes 24horas por dia.

Viajar com os Cullens oferecia a vantagem de não se preocupar com esses detalhes corriqueiros.

Na área de despache, nossos veículos e os demais membros do grupo já nos aguardavam para seguirmos avante na estrada. Graça a Deus, o frio não pareceu interferir no sono dos meus filhotes, ninados por Bella e Esme.

– Poxa vida – Alice exclamou, apontando o dedo para mim – Esse aí é o mesmo Jacob que saiu de Washington essa manhã?! Está tão mudado... Dá até pra dizer que está feliz!

Todo mundo pareceu concordar com ela, e eu fiquei embaraçado quando eles demonstraram satisfação entre risos. Droga...

– Será que dava pra gente seguir viagem?! – pedi sem graça, uma nuvem de vapor saindo da minha boca ao pronunciar a pergunta – Daqui a pouco vai começar a amanhecer... Chega de perda de tempo!

– Ui ui ui... Olha só quem está todo empolgado agora?! – Emmett, como sempre – Mas é verdade, vamos tocar o barco. Já vai chegar o sexto dia... esse cara já deve estar achando que não vamos encontrá-lo. É a hora ideal para pegá-lo de jeito!

Vinte minutos de estrada foram suficientes para sair de Praga e chegar à cidade cheia de colinas e verde que desejávamos. A impaciência com o horário já estava em meu percalço, no entanto, ao que parecia, tínhamos planos ainda para aquela madrugada... Colocaríamos em prática já o nosso esquema de buscas. Os únicos entraves seriam permanecermos todos juntos {isso iria nos atrasar} e os cuidados com os bebês {teriam que participar integralmente conosco das buscas}! O escudo de Bella precisava estar sobre nós o tempo inteiro, para que não fossemos detectados por Gabriel. A extensão da cidade não parecia ser maior do que Forks, o que, dadas as circunstâncias, significava algo como 8 horas de buscas, se tivéssemos sorte...

Alice, muito perspicaz, havia providenciado duas Babybags para carregar Lilly e Jared nas costas. Acho que nunca mais ninguém ali faria piadinhas quanto aos seus métodos de arrumação de bagagens... Rosalie e ela se encarregariam de carregá-los, seus movimentos suaves não interfeririam no mais leve dos sonos.

Assim que chegamos a um vilarejo, encontramos uma pousada. Lá, nos demoramos o mínimo possível. Os funcionários estranharam bastante nossa pressa e modos {sem mencionar aparência}, mas foram tão receptíveis quanto mandava a etiqueta, providenciando a remoção das nossas poucas malas para os quartos e finalizando a papelada de hospedagem eles mesmos.

Das duas horas da manhã em diante, só o que nos rodeou foram árvores e ruídos da natureza. Oito vampiros adultos e três lobos, mesmo em terras distantes, teriam que ser capazes de dar conta do serviço com brevidade. Sobre encontrá-los, não tínhamos dúvida alguma, graças à visão que Alice teve... Era o que aconteceria depois do encontro que causava desgaste em nossos nervos e espasmos em meus músculos, agora tensos enquanto amorteciam o impacto das minhas patas sobre do solo lamacento, durante a corrida mais importante da minha vida inteira.

Quando os primeiros raios da manhã começaram a se emancipar sobre nós, percebi o quanto as nuvens estavam baixas. Era assustador, parecia que terra e céu se tocavam no horizonte adiante de nossa visão. Me preocupei também com Bella... Ela nunca havia sustentado o escudo por tanto tempo assim antes, deveria estar fatigada.

“Edward, vamos dar um intervalo para Bella” mentalizei. Ele brecou e o restante fez a mesma coisa.

– Está tudo bem, meu amor?! Quer que nós paremos para um intervalo?! – ele se aproximou, acariciando os ombros dela, que franziu a testa.

– Do que você está falando?! Eu estou ótima, posso agüentar mais uma semana disso numa boa...

– Tem certeza?!

– Tenho! Vamos logo, o cheiro de caça nesse lugar já está querendo tirar minha concentração.

Outra meia hora pelo menos se seguiu sem novidades. Já estava me preparando para um dia inteiro daquele jeito...

Ao alcançarmos a parte leste da cidade porém, onde havia um vilarejo mais elegante de mansões, nossas narinas foram arrebatadas pelo rastro inegavelmente conhecido...

Renesmee estava perto dali.

Nossa corrida então ganhou força total!

Se alguma vez meu coração ficou a ponto de explodir, foi ali, no exato momento em que abandonamos a mata fechada, três minutos depois, e demos de cara com a viela de uma propriedade enorme e cercada por um muro alto de pedras, bem no topo da colina. O cheiro ali era quase físico, a ponto de fazer parecer que Nessie já estava conosco outra vez. Nos aproximamos mais e então identifiquei dois brasões esculpidos nas rochas: Um com um dragão e outro com uma estrela de sete pontas.

Não esperei nem mais um segundo sequer. Saltei o muro como se ele nem existisse, deixando nas costas um grito que Bella me lançou, alarmada. Nem pensei na hora o que me encontraria do outro lado {que, pra minha sorte, foi apenas a grama de um imenso jardim frontal... nada de fossos ou contenção elétrica}! Só pensava em encontrá-los, onde quer que estivessem... com quem quer que estivessem...

Encontrá-los... resgatá-la... e matá-lo!

Não sei em que ponto o escudo de Bella deixou de me dar cobertura, só sei que meu nariz me impulsionava direto à fonte do cheiro que eu melhor conhecia em todo o planeta.

Foi coisa de 10 segundos.

Eu completei o contorno da casa gigantesca... Alcancei um segundo jardim, ainda maior que o primeiro.

Então, vi ao longe... dois corpos sentados em um banco de pedra...

...Dois corpos aninhados um no outro...

...Dois corações batendo em uma sincronia tenebrosa...

Parei de correr, minhas patas travaram na beirada do lance de escadas que dava acesso ao solo do extenso campo diante de mim.

Era ela...

... Renesmee...

...Enlaçada nos braços de outro...

... satisfeita dentro do abraço do meu inimigo...

...aquele ser desprezível... odioso... escondido convenientemente atrás dos longos cachos acobreados da minha princesa...

...que agora, parecia pertencer inteiramente...

... a ele.

Eles finalmente demonstraram se dar conta da minha presença. Parado ali onde eu estava, pouca coisa se podia ver do semblante deles dois quando se ergueram, surpreendidos com a visão de um lobo enorme à espreita. Só sei que, de repente, aqueles braços sujos se afastaram do corpo dela... e impulsionaram o dele para longe.

Ele estava fugindo! Como sempre, tentando escapar de sua sentença...

Já tinha feito isso por tempo demais!

Num movimento certeiro, dei um salto que me lançou a pelo menos 10 metros de onde eu estava. Empurrei o solo pra trás de mim com as patas, ardendo em ódio.

Ódio demais para parar, quando ultrapassei o local onde estava minha Nessie, petrificada de medo. Ódio demais para saciar minha saudade de seu toque... sua presença. Minhas garras só queriam um lugar: o pescoço daquele miserável.

Poucos metros a frente, ele freou e se virou, exibindo finalmente sua figura enjoativamente bela para mim, como um troféu... Como se de alguma maneira fosse possível eu não despedaçá-lo todo, assim que a proximidade me concedesse a chance. Como se sua beleza artificial de algum modo fosse capaz de me deter...

Quando nossos olhos se cruzaram, a lembrança do seu dom veio com tudo sobre mim, para me intimidar, e eu também brequei, levantando uma cortina de poeira...

Todavia, foi só a lembrança que me atingiu... Nada concreto. Nenhuma dúvida quanto ao meu ódio por ele ter se atrevido a me roubar meu amor... Nenhum motivo para desmotivar minha sede de vingança, que o estilhaçava de longe, antes mesmo dos meus dentes. Olhei pra trás e identifiquei meus amigos surgindo de detrás da casa, onde a poucos segundos eu estava. Graças a Deus, Bella ainda me mantinha protegido pelo lasso, livre de sucumbir ao “charme” do maldito.

Me virei de volta e rugi ferozmente ante a face do meu oponente.

– Jacob “Black” – ele cuspiu meu nome, ciente de que estava emboscado, mas ainda assim disposto a debochar – Você conseguiu algo verdadeiramente espantoso, estou impressionado... Mas será mesmo que você tem razão de querer lutar contra mim?! Pense bem, eu e Renesmee somos compatíveis, feitos um para o outro... Como você e ela jamais serão! Olhe pra si mesmo, um selvagem, um inimigo natural da nossa espécie... Só porque, do nada, sofreu uma hipnose medíocre, acha que ela te pertence?! Que você tem tanto direito quanto eu de tê-la ao seu lado?! Está querendo viver sua vida como se as regras não se aplicassem a você... Mas você nunca será capaz de amá-la como ela merece!! Você não passa de uma fraude, uma amostra patética de tudo que o amor nunca será. Você não é “digno” nem sequer de pronunciar a palavra...

Um berro distante de Edward repercutiu atrás de nós, mas era tarde... Eu já estava no ar, a um segundo de esmagá-lo como o inseto asqueroso que era.

Ele conseguiu se esquivar, deixando só uma perna ao meu alcance. Cravei a boca no membro duro como diamante, que se separou do corpo dele em milissegundos. Sua voz lançou um grito torturante embaixo de mim... Mas a mutilação da perna liberou o restante do corpo para tentar escapar outra vez. Era muita poeira embaçando minhas vistas, mesmo assim eu persegui o cheiro e o vulto capengante dele, derrubando-o e sacudindo-o outra vez com os dentes. Nunca uma presa minha produziu tanta agonia sonora antes... nem saciou minha alma com tanto prazer! Abocanhei fora um de seus braços, mas então ele reagiu, cabeceando meu peito como a intensidade de uma bola de canhão. Rolei para trás, pego desprevenido por toda aquela força no centro do meu corpo. O miserável voltou a se arrastar pra longe, parecendo querer me atrair ao interior do paredão de arvores que ia dar em uma floresta particular do terreno... uma vez em meio à densa floresta, ele poderia sumir de vista, mesmo com a falta de dois membros. Tudo acontecia tão depressa que meus companheiros nem tinham conseguido nos alcançar ainda. Isso era bom, eu acabaria com aquele verme sozinho, exatamente como queria desde o começo.

Me lancei do chão para a frente, caindo sobre ele já quase na entrada da mata. Nós dois rolamos dessa vez, meus dentes se batendo cegos em sua direção, enquanto seu braço se travou em minha cintura, me impedindo de acertar o alvo. Nos chocamos contra uma árvore e nossos corpos se separam outra vez, mas eu parei de pé como um felino, enquanto ele ficou estirado no chão, aguardando o fim. Meu olhar se encontrou com o dele uma última vez e ele exibiu os dentes. Ignorei o aviso e atravessei os quatro metros que nos separavam, arrancando sua cabeça fora de uma vez, ao final do encontro.

Estava feito! Tão rápido quanto começou, acabou... Decapitado, ele agora não poderia se mover mais um milímetro sequer. Sorri pra mim mesmo, com a minha vitória...

Em minha pata, porém, senti o gelar de uma lâmina afiada rasgando minha pele, injetando alguma coisa corrosiva. O crânio degolado se desprendeu, após eu tê-lo sacudido, e arrancou uma dor insuportável do meu tecido. Logo após isso, um fogo desenfreado começou a se alastrar em minhas veias, partindo da perna frontal e atingindo todo o resto. Com os sentidos debilitados, fui ao chão. A ventania que trouxe meus companheiros finalmente ao local em que estávamos foi a última sensação que tive, antes que meu corpo inteiro fosse dominado pelo ardor infernal.

– Depressa, façam uma fogueira com este isqueiro e queimem as partes do maldito nela.

– O que aconteceu?! O que há com Jacob?!

– OH NÃO... ELE FOI MORDIDO!!

– O QUÊ??!! COMO?! O OUTRO ESTÁ DESTROÇADO... É IMPOSSÍVEL!

– A PATA DELE... ESTÁ VASADA, E COM CHEIRO DE VENENO! DEVE TER ACONTECIDO QUANDO ELE DECAPTOU A CABEÇA DO DESGRAÇADO... CARLISLE, RÁPIDO, FAÇA UMA SUTURA COM TECIDO, PRECISAMOS IMPEDIR QUE O VENENO SE ESPALHE... VOU TENTAR SUGAR...

– AI MEU DEUS, ELE ESTÁ TENDO UMA CONVULSÃO... AJUDEM-NO, POR FAVOR... POR FAVOR...

Aquela última voz... desesperada... enlouquecida... torturada, assim como minhas células...

... era dela... A voz mais perfeita de todas... A mais deliciosa melodia que meus ouvidos condenados já haviam escutado...

– É tarde demais, o veneno se alastrou por todo o sangue... Não há como sugar, sem matá-lo!

– O QUE ESTÁ FAZENDO, MEU AMOR?! CONTINUE A SUGAR, ELE ESTÁ JÁ FICANDO SEM COR...

– Eu sinto muito... se espalhou... depressa demais... Droga! DROGA!

– NÃO!! É MENTIRA, NÃO PODE SER IRREVERSÍVEL... DÊEM UM JEITO NISSO!! SALVEM ELE, POR FAVOR!! SALVEM O MEU JACOB AGORA!!!

– NESSIE... SEJA FORTE... NÃO HÁ MAIS JEITO, MEU AMOR...

– NÃO É VERDADE!! CALA A BOCA, NÃO É VERDADE!!

RENESMEE, NÃO FAÇA ISSO!

Senti...

...sim, senti...

...seu toque inconfundível, erguendo parte do meu corpo pra cima...

... meus olhos ainda abertos visualizaram o formato fosco da sua face em prantos...

... como eu poderia morrer, após ter feito tudo para salvá-la?!...

... por que tinha que terminar desse jeito?!...

“Agüente Jake... Resista... por mim!” – Finalmente, após tanto tempo de abstinência, seus meigos pensamentos se espalharam em minha cabeça. Me lembrei das palavras de Rosalie, um dia antes... “Não se ponha em risco...”... Evidentemente, já era um pouco tarde para seguir seu conselho...

Um pontinho do meu corpo recebeu uma fisgada final.

Depois, soube que estava morto, porque tudo se desconectou, desfeito em vultos e flashes cegantes.

Seu cheiro sumiu das minhas narinas... seu toque se perdeu da minha lembrança, assim como a imagem de seu rosto em minha mente...

Meu coração parou de bater...

Em definitivo.


Fim do P.D.V de Jacob


3 comentários:

  1. Estou em choque!
    Ele morreu?
    Ele não pode ter morrido?
    Continua logo ou eu tenho um ataque cardiaco!
    Beeijos,
    Bella!

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  2. jacob morreu???

    o livro acabou como vc tem coragen de terminar o livro com a morte de jacob?
    continua!!!!!!!!!!!!!!
    por favor
    esse livro ta melhor do que o sol ardente!

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  3. ei eu denovo anonimo
    eu notei que o comentario entes que o meu é de abril o livro nao tem continuaçao?
    que chato
    agora o sol ardente é melhor que esse livro

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