domingo, 1 de agosto de 2010

CAPÍTULO UM – PRIMEIRO DIA DE “JAULA”



CAPÍTULO UM – PRIMEIRO DIA DE “JAULA”

Sabe qual é a parte mais legal em se começar na escola nova, dentro da minha realidade?! Entrar tão bem acompanhada por pessoas que já viveram essa experiência por tempo suficiente para não me deixarem cometer gafes. Uma a uma, eu fui vendo as minhas dúvidas sobre como agir, ou o que falar, desaparecendo em meio ao nosso papo descontraído durante o caminho. Ah sim, eu pedi para seguir no carro do meu avô Edward, ao invés de ir no dos meus pais. Não estava com estômago para aturar a presença irritante e lamuriosa de Jared por mais dois segundos que fossem... Ele estava pra me extinguir a paciência!

Então, agora, minha avó Bella, juntamente com o vovô e... Seth... estavam discutindo a síndrome do popularismo entre os gêneros de estudantes mais detestáveis que eu enfrentaria dali pra frente. Fui advertida sobre pessoas e sobre comportamentos que eu não tinha ciência e, num dado momento da nossa conversa, comecei a ter a impressão de que estávamos para entrar em uma savana, ao invés de numa instituição civilizada.

– Essa é uma boa definição para o colegial, Lilly! – vovô comentou em voz alta – Muito embora as savanas ainda sejam atrações turísticas com algum teor cultural...

Vovó riu ao entender a fala dele, e o carinha do meu lado também. Ainda não conseguia acreditar em como o meu coração estava frenético pelo simples fato de eu estar ali, perto dele... tensa feito uma foragida da justiça! Talvez tivesse sido mesmo melhor eu ter seguido no outro carro. Ignorar a existência do pedante do meu irmão certamente teria sido muito mais fácil do que ignorar aquelas olhadas que eu estava recebendo agora por parte do passageiro ao lado, enquanto eu fingia interesse no confronto “Nerds versus Atletas” que os dois da frente comentavam – mas, na verdade estava, a beira de morrer por insuficiência neurológica!

Eu agradeço pela oportunidade de me divertir com o seu confronto sentimental...” – A droga da voz enjoativa de Jared me deu outro susto daqueles e eu pulei sobre o acento.

– Sai da minha cabeça, porcaria! – choraminguei, ciente de que ele não poderia me ouvir dessa vez. Acho que o meu apelo foi, na verdade, para que alguma força divina da natureza me socorresse.

– Qual o problema, Lilly?! – Seth perguntou. E não só isso... também encostou sua mão macia e quentinha no meu braço ao fazer a pergunta. Consegui, de algum modo, encontrar uma posição ainda mais retesada do que a de antes, cravando as unhas no banco.

– Nenhum! – resposta curta e grossa, pra não deixar escapar nenhuma das bobagens que eu estava pensando. Já foi um milagre eu ter conseguido me concentrar na ordem das palavras que ele falou.

Minha avó olhou pra trás para avaliar a minha cara, em seguida se virou de volta e suspirou.

– Lá vamos nós outra vez! – meu avô disse, de um jeito maliciosamente frustrado, sem se desconcentrar da direção.

Ah, o que eu não daria para ser normal nessas horas...

~~

Como sempre, estava caindo o maior toró em Forks. Mas nem teria graça se eu atribuísse aquilo a um prenúncio ruim... Chover nessa cidade era apenas inevitável, assim como o destino que todos haviam maquinado pra mim. Meus pais estavam na maior animação no banco da frente, esfregando na minha cara todas as supostas maravilhas da vida acadêmica. No meu estado, seria mais fácil sentir prazer com o ruído repetitivo do pára-brisas, esfregando os vidros a frente e atrás de nós, do que com qualquer assunto que começasse com as palavras “primeiro período” ou “aulas de campo”. Só pra não dizer que eu estava sendo injusto com aquela história toda de colégio, havia sim duas coisas que eu considerava maravilhosas na vida de estudante: o intervalo entre as aulas e as férias escolares! Mas, mesmo assim, ambas implicavam no fato de eu ter que freqüentar as aulas, então... tanto faz.

– Desemburra essa cara, Jared! – Emmett desdenhou do meu estado – Parece que você está indo para a forca.

Olhei pra ele, sem nenhuma emoção:

– Acho que eu nunca compreendi tão bem essa expressão como agora, tio.

– Ah, filho, fale sério! Eu aposto que, no fundo no fundo, você está ansioso para saber como é uma vida de estudante. – meu pobre pai pronunciou a sua avaliação iludida sobre o caso.

– Não é necessário enfiar o dedo na tomada, pra saber que a eletricidade dá choque... Não é preciso colocar a mão no fogo, pra saber que ele queima... Estou esquecendo de mais alguma outra?! – debochei

– Deixe estar, meu amor... – mamãe disse a ele – uma hora ele vai se cansar de bancar o durão e admitir que só está nervoso!

– Só se for pelo fato de eu estar para perder de vez a minha liberdade!

– Não seja tão ranzinza, Jad...Pense positivo! – Emmett não desistiria de tentar algo comprovadamente inútil: me animar.

– Eu vou ficar satisfeito se, ao final do dia, eu ainda estiver conseguindo pensar!

– Sinto te informar, filho, mas esse seu mau humor está começando a se tornar apenas um detalhe humorístico no nosso dia! – minha mãe disse, depois sorriu ao ver que estava certa: todos riram de mim.

Já estávamos bem próximos da “ilustríssima” Forks High School. Do seu canteiro florido. Da sua placa deprimente!

Abri o zíper lateral da mochila e catei meus fones de ouvido. Queria já sair do nosso veículo alheio a aquele universo medonho... Livre de me contaminar com a energia degradante da confraternização dos alunos.

Porém, mesmo do lado de fora dos muros, eu já consegui ter um vislumbre da avalanche de emoções que me aguardavam lá dentro para as próximas sete horas. Era exatamente o tipo de atmosfera asquerosa com a qual eu estive tentando não me misturar por toda a minha vida: as gargalhadas altas e ceninhas públicas, que na verdade encobriam teatrinhos fajutos de aceitação; conversas sem conteúdo proveitoso à humanidade, mas bastante úteis à promoção das guerrinhas ridículas por popularidade e rótulos – ao invés de por amizades sinceras; emoções dos mais frágeis condicionadas às vontades alheias, se alterando secretamente em uma freqüência detestável; a maioria se deixando comandar, a troco das migalhas da fama de uma minoria que estava em destaque – justamente por serem os exemplares mais estúpidos dentre a multidão; ressentimentos, egos feridos, aparências... sentimentos tão mesquinhos e misturados, que inevitavelmente me embrulharam o estômago. Mas foram coisas que eu previ desde o início. Pra mim, não era nenhuma novidade o fato de que no colégio, as pessoas só aprendem é a piorar o mundo! Já me senti idiota só por ter que me importar em detestar aquilo tudo. Mas, no meu caso, ou era isso ou eu me tornaria, na melhor das hipóteses, conivente com eles. E já era ruim, mesmo que só na minha cabeça.

Fizemos uma curva para entrar no estacionamento. O movimento do lado de dentro era mesmo massacrante. Guarda-chuvas... galochas e All Stars, chapinhando nas poças sobre o asfalto... mochilas de todas as cores, com bottons e penduricalhos... moletons coloridos... cabelos coloridos (aliás, tudo era epilepticamente colorido ali!)... Se abraçando. Se espremendo. Comemorando os reencontros, como se uma guerra os tivesse separado por 20 anos. Gritando os nomes uns dos outros, pra que o mundo inteiro sentisse interesse em saber quem ia sendo acrescentando às suas preciosas panelinhas. Status quo! Mediocridade total! E aqueles ainda eram os 10 segundos iniciais! Um começo nada promissor, eu já era capaz de dizer só por aí...

~~

Naqueles primeiros 10 segundos, eu já consegui fazer minha primeira constatação: minha família e eu estávamos todos bem vestidos demais! Eu nunca pensei que as pessoas se vestissem daquele jeito – largadinhas – para irem ao colégio.

– Em Beverly Hills talvez não... Mas aqui, sim, Lilly! – vovô confirmou as minhas suspeitas.

– Qual o problema, meu bem?! – vovó Bella perguntou, olhando o movimento do lado de fora dos vidros do carro.

– Lilly está se achando bem vestida demais... Mas eu bem que tentei avisar!

– Está bem, vovô... Eu admito, você nos avisou! – suspirei, desanimada pela primeira vez – Mas eu não esperava que você, como homem, pudesse ter alguma razão nesse quesito das roupas.

– Você está insinuado que eu me visto mal, é?!

– Como se isso fosse possível... – revirei os olhos e ele, aparentemente, achou graça – Mas eu estou me referindo a essa mania que todo homem tem de achar que as pessoas ao redor não estão nos avaliando.

Todos riram da minha fala. Que bom pra eles, estarem mais tranqüilos do que eu...

– Lilly... se você achar que as pessoas estão te avaliando, apenas avalie-as de volta! Você vai começar a ver que esse exercício não produz nada de concreto, realmente! – vovô disse, dono da verdade e do saber, como sempre.

– Ah, tá bom... além de intimidação?!

Ele riu, dando sotaque.

– Confie em mim... a relação de “intimidação” com você será única e exclusivamente de dentro pra fora!

– Ah, isso com certeza, Lilly! Vai ser um milagre se alguém aqui não nos endeusar! – vovó falou, mas não com um tom presunçoso... Foi mais com pesar – Estou começando a achar que eu vou sentir saudades da época em que eu ainda podia tropeçar e me humilhar em público.

– Sério, vó?! A coisa é tão séria assim?!

– Você verá com os seus próprios olhos, fofinha!

Aquela conversa toda começou a me deixar intranqüila. Aliás, mais intranqüila ainda, já que a minha afetação com a proximidade comprometedora de Seth ainda não tinha passado – e nem passaria, até que descêssemos do carro e eu tivesse a oportunidade de respirar um outro ar, que não o mesmo do dele. Mas, apesar do meu mau comportamento, ele estava completamente relaxado, observando os alunos formarem seus grupinhos, enquanto estacionávamos numa vaga próxima à entrada do prédio principal. Gostaria muito de saber o que ele estava achando dessa minha postura babaca em relação a ele, ultimamente... Eu estava sendo de uma frieza terrível com o coitado, mas também não era pra menos: havia um peso enorme de compromisso no nosso relacionamento, agora que eu já não tinha mais idade para chamá-lo de “lobinho”, sem que as minhas bochechas corassem embaraçosamente!

Quer parar de se preocupar com isso, garota! Vocês, mais cedo ou mais tarde, vão virar marido e mulher mesmo... Então pra que esquentar a cabeça com as preliminares?!

Gemi, e gemi pra valer. Pior que isso: grunhi com arrogância para o vento.

– Lilly, quer que eu leve as suas coisas para a sala?! – a voz de Seth veio atravessando o meu juízo em parafusos. Ai, meu Deus... Esses olhos castanhos me encarando desse jeito vão me fazer pirar aqui!!!

Ai, meu Deus... Eu vou vomitar!

– CALA A BOCA!! CALA A BOCA!! – eu esbravejei, sacudindo a cabeça dentro das mãos, inutilmente.

– Tudo bem, Lilly!

Ai não... o Seth entendeu que aqueles gritos retardados foram pra ele!

Mas que droga, Jared, eu vou te matar na primeira oportunidade! Me virei afoita para me desculpar com ele, mas o seu olhar para mim foi totalmente sereno, e eu simplesmente não consegui coordenar os lábios para verbalizar coisa nenhuma – quase babei, de fato.

~~

A porta se abriu para mim e eu saí, recebendo alguns pingos melancólicos de chuva na jaqueta. Minha mãe me olhou com um olhar compadecido. Esperava que ela e todo mundo realmente soubessem o quanto aquilo tudo estava sendo penoso parar mim.

Procurei não encarar rostos. Isso poderia ser confundido com um sinal de interesse da minha parte em alguma daquelas idiotices que estavam se manifestando ao meu redor. Mas, de repente, senti que todos os olhares do estacionamento estavam voltados para nós.

Que ótimo. Como eu “adorava” ser o centro das atenções...

Quando pensei que as coisas não tinham mais como piorar, um par de braços desenfreados me engarguelaram por trás:

– Você quer me dizer o que estava pensando ao me falar aquelas coisas no carro, seu demente?! – minha irmãzinha estava agora contribuindo para agravar ainda mais a situação, pendurada nas minhas costas e gritando feito uma criança mimada. Exatamente o tipo de atitude que era um prato cheio para os olhares e fofoquinhas.

Me livrei da ceninha, desgrudando bruscamente os seus braços do meu pescoço e me afastando sem responder nada. Nem me preocupei em reparar qual direção estava tomando, contanto que estivesse me afastando dela. Mas a pirralha não desistiria tão facilmente. Fechei os olhos, prevendo seus berros à distância mesmo antes que eles se concretizassem:

– Não fuja de mim, Jared Black... Ou eu te arrebento, ouviu bem?!

Voltei correndo, fazendo até com que ela pensasse por um segundo que a ameaça havia surtido o efeito desejado. Mas o que eu fiz foi arrastá-la pelo braço até encostarmos num dos carros – já com, pelo menos, 90% dos alunos olhando pra nós dois e fuxicando sem parar.

– Você poderia, por favor, não me humilhar em público?! Eu já estou sofrendo o suficiente por estar aqui, em primeiro lugar. Não precisa sapatear na minha dor, tá legal?!

– Foi você quem pediu por isso! – ela percebeu o que estava provocando e passou a sussurrar, embora isso não contribuísse com muita coisa – Você tem noção da vergonha que você me fez passar no carro a troco de nada, seu doente?!

– Você se expõe ao ridículo com, ou sem a minha contribuição, Lillian. Agora, deixa esse assunto pra lá.

– Não enquanto você não me pedir desculpas! – ela ergueu uma das sobrancelhas e eu vi que teria que ceder antes que ela aumentasse o volume da voz outra vez.

– Está bem, me perdoe! Agora, me faça um favor: enquanto estivermos aqui, finja o melhor possível que não me conhece, ok?!

– Nem precisa pedir, vai ser um prazer!

Libertei o braço dela e me preparei para continuar seguindo na direção anterior, quando a voz da minha avó Bella clamou pelo nosso grupo:

– Gente, vamos ter que comparecer todos juntos à recepção para pegar os nossos horários. E, pra aqueles que quiserem, um mapinha do colégio também!

Grande...!

~~

Como uma forma de me redimir pelo escândalo no carro, deixei que Seth levasse as minhas coisas. Podia até parecer frescura minha, mas o caso é que ele parecia sentir mais prazer com aquilo do que eu própria.

Estávamos indo agora pegar os nossos horários sabe-se lá Deus aonde. Vovô Edward se despediu da gente no estacionamento mesmo, depois partiu com o seu carro, – chamando a atenção de todos ali que ainda não haviam se familiarizado com a nossa existência. A coisa se mostrou exatamente como a minha avó falou: atravessar o corredor lotado de alunos até o nosso destino final me fez sentir como um boneco alegórico de desfile popular! As emoções dos alunos ao redor se afetavam drasticamente em reação à nossa presença. Foi um carnaval de sensações interiores, que eu infelizmente fui forçada a sentir dentro de mim, como se fossem as minhas. Tio Emmett nem quis vir com a gente... Já foi logo se dirigindo à coordenação dos professores, pra se apresentar e aguardar até que suas primeiras aulas de educação física começassem.

Quando viramos para entrar no pequeno compartimento da recepção, eu soltei o fôlego indiscretamente.

– Ok, isso foi pior do que eu esperava! – minha mãe comentou.

– Nem me fale! – papai acrescentou.

– Vocês acharam isso ruim?! Esperem até a hora do intervalo... – vovó sibilou. Comecei a desconfiar que ela estava sentindo uma pitada sombria de prazer em nos torturar por antecipação daquele jeito.

O relógio no alto da parede anunciava que nós só tínhamos mais cinco minutos, antes que o sinal para as aulas tocasse. Um frio intenso se emancipou no meu estômago.

– Calma, Lilly! Vai dar tudo certo! – Seth disse, ao notar as minhas mãos se balançando no ar involuntariamente.

Até parece...

Como se não bastasse o nervosismo da estréia, eu ainda teria que freqüentar um monte de aulas com ele! Seria obrigada a permanecer alerta o tempo todo, me policiando entre devotar alguma atenção aos assuntos e em não dar bandeira de que eu estava completamente desmiolada por sua causa.

– Vocês estão todos juntos?! – a vozinha nasal da mulher na recepção cortou o sobrevôo da minha mente.

– Sim. Eu sou Isabella Cullen, 2° ano! Esta é a minha irmã Renesmee e Jacob Black, o namorado dela. 2º ano também!

Ela, aparentemente, estava tão receosa, que nem reparou que algumas daquelas apresentações teriam sido até dispensáveis – àquela mulher, pelo menos. Não sei até que ponto nós seríamos eficientes em sustentar aquelas histórinhas sobre o nosso grau de parentesco. As pessoas, cedo ou tarde, iriam se interessar em descobrir onde nós morávamos, quem eram os nossos pais, etc... No entanto, por convenção, vovô Billy foi nomeado o responsável por nós, os Blacks, enquanto que vovô Carlisle foi o escolhido para representar vovó Bella e minha mãe. Seth tinha a mãe dele e o vovô Charlie para cuidar de quaisquer incidentes, ou aborrecimentos que fossem. Só nos restava torcer para que os disfarces durassem, senão... Bye bye, aventura do colegial!

A senhora não demorou muito tempo a encontrar os horários. Pareciam, de alguma maneira, já estarem no topo da pilha. Vovó nos anunciou também, os calourinhos do 1º ano. Na farsa, eu e Jared ainda continuaríamos como irmãos – infelizmente –, porém viramos primos do nosso pai, pelo fato de nós três carregarmos o mesmo sobrenome ainda. Seth foi o único a permanecer como “ele mesmo”, por assim dizer... Foi o jeito que encontramos para justificar os multi-relacionamentos do nosso grupo de uma maneira aceitável aos olhos dos nossos queridos coleguinhas e corpo docente.

Essa, lamentavelmente, foi a parte mais discreta e curta do nosso primeiro dia de aula.

~~

Como era primeiro dia de aula para todos, Lilly, Seth e eu escapamos de sermos alvos de cerimônias de apresentação e outras babaquices diante da classe. No entanto, isso não excluiu o triste fato de nós três termos 80% das nossas aulas em comum.

Nossa sala principal ficava no prédio 01, e era um cubículo com aproximadamente 80 m², mal arejado, por conta das janelas – fechadas o tempo todo e com vidros revestidos por uma película escura. Um dos aparelhos de ar-condicionado estava quebrado. Mas, como o sistema elétrico era interno, ele permanecia ligado, fazendo um barulho constante e indigno de confiança.

A educação Forkiana deveria estar mesmo a anos luz das demais do país. As carteiras ainda eram de tampo, e todos eram forçados a se sentar em duplas. Como chegamos relativamente cedo na sala, ainda havia algumas que estavam vazias. Procurei me sentar o mais afastado possível de Lillian e Seth – que, irremediavelmente, se sentariam juntos em todas as oportunidades que conseguissem. Pelo menos, os atuais conflitos sentimentais dela continuariam a me servir de distração durante as próximas e torturantes horas. Se tornou hilário receber seus boletins constantes e involuntários sobre o quanto estava se sentindo miserável – não pelos mesmos motivos que eu, mas ainda assim já me servia como prêmio de consolação.

Nosso primeiro período foi o de ciências econômicas, onde eu pude descobrir o quanto o termo “sustentabilidade” podia mesmo se tornar factível, após repetido 42 vezes em menos de 1 hora. Nesse mesmo período ainda, notei também uma elevação de interesse no fenômeno “Lilly e Seth” por parte das menininhas da nossa turma. Eram emoções tão controversas que dava até medo tentar entendê-las. Os dois estavam absorvidos demais com a proximidade um do outro para perceber quaisquer alterações de comportamento que estivessem provocando no meio externo.

No segundo período – álgebra –, o queridinho Clearwater já não participou conosco, deixando Lilly um pouco mais a vontade para respirar, e a mim, entregue outra vez à completa monotonia. O Sr. Jefferson parecia sofrer de algum tipo de distúrbio sensitivo, já que o seu modo desleixado de pressionar o piloto contra o quadro parecia provocar ânsia de vômito em todo mundo ali, menos nele. De fato, o homem deveria ser o último professor na face da terra a ainda usar piloto pra dar aula – depois da invenção do computador, e tal... “Primeiro dia de aula”, aparentemente, era um aspecto irrelevante diante de tamanha urgência em nos ensinar análise combinatória e fatoração, tudo de uma vez só!

– E então – de repente, uma voz feminina se pronunciou ao meu lado e me sobressaltou, interrompendo as minhas tentativas frustradas em me auto-induzir num coma –, você é caladão assim mesmo, ou está só com vergonha de falar comigo, pelos motivos óbvios?!

Incompetência minha não ter concluído que, uma vez que todos na nossa classe já estavam devidamente sentados em duplas, logo, eu também deveria ter ganho uma companhia em algum momento das aulas. Me virei para encarar a minha falante – que, ao primeiro exame, me pareceu bastante comum enquanto digitava despreocupadamente em seu notebook os exemplos dados pelo professor. Mas foi só quando ela finalmente ergueu seus olhos azuis piscina para mim que eu me dei conta de que “comum” estava longe de ser um adjetivo aplicável a ela. Pude então entender o que ela quis dizer com “pelos motivos óbvios”: se tratava de uma garota muito bonita, de fato.

Certamente, bonita demais para ser tão simpática, pelo menos! As linhas de seu rosto eram duras, definidas. No entanto, muito femininas. Os cabelos, em camadas que iam até metade das costas, e os cílios ao redor dos olhos expressivos eram bem escuros. Mas a luz que incidia no contorno da cabeça revelava um tom discreto de castanho, parecido com o da minha avó Bella. A pele era clara – apesar de um tanto bronzeada, se a comparássemos com as demais garotas dali – e sua postura era muito correta na cadeira. Como a de uma bailarina. Nas roupas, acessórios e corte de cabelo, ela denunciava um poder aquisitivo relativamente mais alto do que o padrão geral. Havia uma grande possibilidade de ela ser mesmo uma daquelas modelos fotográficas esnobes, que freqüentam o colegial apenas para esfregar sua “superioridade” na cara de todos que a pudessem ver.

Porém, naquele primeiro instante com ela, não consegui identificar em seu humor qualquer emoção ligeiramente fútil que fosse. Empreguei mais esforço, pra ver se eu finalmente conseguia pescar alguma manifestação que a traísse, mas foi como antes: total tranqüilidade – acompanhada, agora, por uma ligeira onda de precaução. As linhas firmes de seu rosto se franziram para mim, de um jeito desapontado.

– Acho que é a primeira opção, então... – deliberou ela, sorrindo discretamente, e eu então fiz as conexões corretas sobre meu silêncio naquela conversa.

– Jared – titubeei, por impulso.

– Hãn?! – seu cenho voltou a se franzir.

Incompetência minha, de novo, não ter previsto esse tipo de situação. Fiquei indeciso, sem saber exatamente até que ponto seria seguro transcorrer apresentações ali, sem comprometer o nosso disfarce. Mas não demorei muito a concluir que seria absolutamente inocente deixar que ela soubesse o meu nome – algo que, dentro de alguns dias, todos ali saberiam, fosse como fosse.

– Meu nome é Jared!

– Impressionante! – ela observou, de um jeito desconexo.

– O quê?!

Sarcasmo não tinha funcionado desse jeito com o pessoal daqui, até agora!

A garota sorriu mais abertamente dessa vez, claramente satisfeita. Então ela era de fora... Isso era bom. Quer dizer, explicava o seu comportamento, digamos, incomum. Tratei de me ajustar logo àquela situação, antes que eu aparentasse ter problemas mentais:

– É que – relaxei os ombros –, aqui em Forks pelo menos, as pessoas praticam sarcasmo como um mecanismo de defesa. Um escudo. Não é costume usá-lo pra outros fins por aqui, por isso talvez você sinta dificuldade em se entrosar.

Certo, até que eu estava indo bem até aqui.

– O que você está tentando proteger, Jared?! – mas aí ela largou essa pergunta estranha de um jeito completamente espontâneo, o que, no entanto, quase me desequilibrou da cadeira.

– O quê?! – foi só o que consegui pronunciar, com a voz afetada em algumas oitavas.

Ela pareceu não conseguir decifrar direito aquela minha reação repentina e despropositada, então procurou esclarecer o seu questionamento:

– Desculpe se eu me expressei mal... É que, já que o meu sarcasmo funcionou com você, concluí que eu talvez estivesse falando com um sarcástico também. Mas, pela sua cara, acho que me enganei...

Ok, alarme falso. Ela não era uma espiã Volturi psicopata, uma alienígena ou qualquer coisa desse tipo. Eu já podia desmanchar a minha expressão de asno e respirar outra vez.

– Não é isso... É que eu não acho uma coisa fácil introduzir assuntos com completos estranhos.

– É verdade... – sua expressão se tornou séria dessa vez. Mas eu logo veria que esse era outro adjetivo que não se aplicava à sua personalidade – Eu geralmente fico dividida entre começar direto com uma discussão a respeito dos conflitos no oriente médio, ou sobre o índice de natalidade em Porto Rico. Mas, e apenas em raras ocasiões, opto por dizer simplesmente um “Oi, tudo bem?!”, sabe... só pra variar!

Permaneci imóvel e ela sorriu de novo aquele sorriso satisfeito. Em seguida, me estendeu uma mão.

– Oi, tudo bem?!

Precisei de 5 segundos, antes de poder fazer qualquer coisa.

– Você é sempre engraçadinha assim?! – não soube o que mais perguntar. Ela suspirou e buscou a minha mão para me forçar a participar do seu cumprimento.

– Só quando eu estou chateada por ter que começar na escola nova! – ela manteve o sorriso descontraído e eu apenas pisquei duas vezes.

Seu ânimo me soou inquietantemente igual ao meu! O que era ela?! Uma versão minha, só que feminina e tagarela?! “Garota estranha!” – pensei comigo mesmo, depois que ela libertou a minha mão.

– O meu nome é Laura West, tenho recentes 16 anos e sou de Nova York.

– Oi. – disse, sem saber mais se aquela ainda era a resposta correta. Aquele falatório todo me deixou confuso.

Voltei meus olhos outra vez para o quadro, agora completamente tomado pela letra cursiva do Sr. Jefferson. A minha falta de profundidade em relação a ela, no entanto, não a desencorajou a meu respeito. Pelo visto, ser breve não era mais “o melhor remédio para se encerrar um diálogo esquisito”... parecia, agora, ser um novo tipo de estimulante social:

– Não vai me dizer a sua idade?! – ela era insistente. Mas de um jeito que eu, apesar do esforço, não consegui classificar como frívolo. A garota parecia, honestamente, estar apenas interessada em me conhecer, sem segundas intenções – Tudo bem, eu não ligo se você for um repetente!

Repetente?! Eu?! Ah, se ela soubesse o quanto eu era adiantado... – e não só academicamente falando.

Inacreditavelmente, aquela minha percepção sobre as intenções puras dela me levaram, então, a demonstrar o meu primeiro traço de rendição à vida escolar. O primeiro indício de que eu estava prestes a trair todos os estatutos que eu havia imposto a mim mesmo, antes de pisar na Forks High School (incluindo não fazer amizades):

– Também tenho 16. – menti.

Sim, eu havia acabado de contribuir com a farsa combinada pela minha família, para facilitar a nossa vida dentro daquela instituição que eu passei os últimos dias me catequizando para odiar apenas.

– Poxa, isso é bem estranho... – a afirmação dela me interrompeu antes que eu evidenciasse demais a decepção que estava sentindo agora – Você parece ter mais do que isso. 18, pelo menos.

– É, as pessoas me dizem isso com freqüência! – menti de novo, com um sorriso amarelo. Nunca ninguém teve necessidade de me dizer tal coisa.

O sorriso voltou a brincar em seus lábios. Essa não... Se continuássemos nesse caminho, eu correria o sério risco de deixá-la infiltrar a armadura social que me deu tanto trabalho construir ao meu redor.

Laura West sentiu que podia, em fim, dar mesmo continuidade a novas linhas de conversação. Ai não... eu estava perdido!

~~

Aturar a aula tediosa do Sr. Jefferson, sem a companhia – mesmo que desconcertante – de Seth, foi uma tortura. Não sei se era por eu estar sentada na frente, mas aquele homenzinho de meia idade tentando nos ensinar mil assuntos de uma só vez estava exalando um cheiro terrível de tabaco enquanto falava. Hilário que um sexagenário como ele tivesse tantas ocupações, ao ponto de nem lhe sobrar tempo para cuidar da higiene bucal. Enfim, eu estava em sofrimento ali – exatamente o oposto do que eu havia previsto para aquele tão aguardado dia.

Pelo menos, o meu irmãozinho querido parecia estar em situação bem melhor do que a minha. É, pra quem não estava nem um pouco a fim de vir à escola, Jared até que estava se dando muito bem com a versão morena e adolescente da Kate Moss que estava sentada ao lado dele. Das duas vezes que me virei pra trás, os peguei em meio a um papinho bastante descontraído. Credo, tudo estava do avesso. Jamais pensei que me pegaria contando os segundos para o término de uma aula, como estava fazendo agora.

Como Seth estaria se saindo?! Sua aula agora era de biologia, lá no prédio 02... Será que alguma garota metida a “cientista maluca” se sentiria motivada a dar em cima dele?! Aliás, será que todo o quórum feminino em sua classe não faria isso?! Céus, ele era tão...

tão...

Ingênuo.

Provavelmente nem perceberia se uma garota estivesse se jogando pra cima dele, mas ainda assim... eu me torturava mais ainda com uma possibilidade do contrário. Era mais forte do que eu. Por mais que o garoto só tivesse olhos para mim – e isso desde sempre – eu o estava maltratando demais ultimamente. Não poderia culpá-lo se ele resolvesse buscar o tipo de atenção que desejava de mim, nas mãos de outra menina. Ai ai ai... como eu queria ser um pouco menos incompetente!

Como eu queria um pouquinho de sossego...!! Mas nem tudo é perfeito não é, irmãzinha?!

Jared pareceu encontrar uma oportunidade entre seu papinho de voltar a me azucrinar. Olhei para trás, mas percebi então que a falta de sossego a que ele se referia não tinha mais tanto haver comigo. A parceira de mesa dele, aparentemente, estava comprometendo sua capacidade de se manter arredio ao ambiente escolar, como ele havia se decidido. Fiz questão de formalizar um sorriso abundantemente satisfeito para a sua miséria quando ele olhou na minha direção.

O sinal tocou para o intervalo (finalmente). Os alunos abandonaram as carteiras de um jeito brusco, como se elas estivessem contaminadas, ou algo do tipo. Nem me passava pela cabeça que isso tinha alguma coisa haver com a fome.

Como nenhuma das minhas gentis colegas se dignou a conversar comigo em hora nenhuma, eu não teria outra opção a não ser me sentar com meus familiares no refeitório. Não que isso fosse ruim, de jeito nenhum. Eu apenas esperava mais calorozidade por parte das pessoas.

– E eu confesso que esperava menos! – Jared me alcançou na saída da sala. Engraçado... eu pensei que ele iria manter o máximo de distância possível de mim.

– Ah, qual é?! Você agora vai me dizer que estava achando ruim a sua companhia?!

– Terrível! – ele desabafou. Por mais absurdo que aquilo pudesse soar, ele estava sendo totalmente sincero – Aquela garota não parou de falar nenhum segundo... Eu não tenho esse costume de conversar pelos cotovelos, ainda mais com gente que eu nunca via antes.

– Eu sei! – não contive uma risada malévola. Ele me olhou de viés.

Não foi uma tarefa difícil encontrar o restante do nosso grupo, quando chegamos ao imenso refeitório. Bastou apenas acompanhar a direção dos olhares que não estavam voltados para nós dois e – “tcharam” – lá estavam eles, numa mesa próxima à parede de vidraças. Meus pais, minha avó, tio Emmett... e Seth – exatamente do mesmo jeito que eu vi sair mais cedo da nossa sala: com os olhos radiantes fitos em mim. Corei irremediavelmente.

Empurrei meu irmão, pra que se sentasse ao lado dele – o que o imbecil fez, sem se preocupar em disfarçar nem um pouco a sua má vontade com o fato – e fui para a cadeira vizinha à minha avó. Nossa chegada pareceu interromper algum tipo de comoção entre eles. Ela demonstrava estar bastante desgostosa com alguma coisa – o que estava provocando risos neles todos – e eu, aos poucos, descobri que ela havia sido violentamente assediada pelo seu companheiro de mesa, um tal de Collin Preston.

– Ai, que saudade que me deu do Mike Newton, de repente... – ela suspirou, contrariada – Pelo menos, ele nunca se atreveu a sussurrar baboseiras no meu ouvido! Poxa, o que é que há com esses moleques de hoje, hein?! Eles tomam uma dose extra de testosterona intravenosa no café da manhã, é?!

– Cunhadinha querida, parece que você foi condenada quando nasceu a passar por esse tipo de situação! – meu tio disse e acotovelou meu pai, então os dois riram da cara dela.

– Nem preciso comentar o quanto isso é absurdo, Emmett. Eu não passava por esse tipo de coisa, até me mudar pra cá.

– Até parece, mãe! Papai não se cansa nunca de dizer que você sempre foi atraente, mesmo que do seu jeito! – minha mãe replicou, inclinada também em fazê-la sofrer um pouquinho mais.

– Seu pai é um exagerado, filha... O meu jeito de ser atraente não teve nada haver com atributos físicos. Nada mesmo! – vovó disse, emburrada. Eu comecei a me perguntar o que as pessoas ao nosso redor pensariam, se nos ouvissem em uma dessas nossas conversas mais íntimas. Mãe, pai, filha... com certeza não eram formas de tratamento condizentes com as nossas figuras.

– Pra mim teve, Bells. Eu te achei a maior gatinha quando te conheci! – meu pai fanfarreou, e minha mãe articulou um tapa descontraído em seu abdômen. Nem era necessário comentar que esse tipo de piadinha dele não a incomodaria de modo nenhum. Até por que, todos nós sabíamos o quanto uma relação com um Quilleute era sólida e perpétua.

Pensar nisso ali me provocou um calafrio instantâneo. Olhei na direção de Seth e o encontrei rindo tranquilamente da piada do amigo, assim como os outros. Seus dentes naquela posição contra a luz conseguiram até me parecer mais brancos. Me demorei demais encarando na sua direção. Seu olhar logo veio de encontro ao meu e eu tive que o desviar para o meu colo, onde as minhas mãos se espremiam compulsoriamente. Mas que droga!

– Mas que droga! – minha avó reproduziu o meu pensamento e eu fui forçada a prestar atenção outra vez na conversa – Aquele idiota está acenando pra mim lá da mesa dele. Todo mundo vai olhar pra gente!

Ela cobriu o rosto com a mão e o que disse realmente aconteceu: 90% do refeitório começou a acompanhar o que estava acontecendo entre as nossas mesas.

– Não podia ter dado em outra coisa... Edward deu mole demais, te deixando vir estudar “solteira” aqui! – tio Emmett não perdeu a oportunidade e ela lhe lançou um olhar funesto.

– Se você quiser, eu e Seth podemos dar um chega-pra-lá nele depois da aula, Bells!

– Eu te agradeço... mas não, Jacob. Isso seria tremendamente humilhante, além de estranho! Pode deixar, eu mesma vou trucidar esse infeliz assim que ele se descuidar! – ela disse. Mesmo no sentido figurado, aquela sua ameaça seria perfeitamente possível.

Eu adoraria ver isso, só pra variar um pouco dessas emoções nojentas!” – Jared me comentou e, pela primeira vez, tive que concordar com ele. A atmosfera ao redor estava terrivelmente enjoativa. Ele me fez uma cara de “eu te avisei”, e eu respondi com um muxoxo e me levantei para ir providenciar algum lanche.

– Eu te comprei Doritos, Lilly! – Seth me interrompeu no meio do movimento e me estendeu o pacote, com outra variação daqueles seus sorrisos desconcertantes – Toma!

Devo ter ficado tão vermelha quanto o pacote, quando a minha mesa – e boa parte das que estavam ao redor – se enterneceu profundamente com o cuidado dele. Percebendo que a situação havia me deixado constrangida, ele agiu, pondo amostra um segundo Doritos:

– Comprei um pra você também, Jared! – Anunciou. Mentira... Esse, provavelmente, ele havia comprado pra si mesmo.

Uma das sobrancelhas do meu irmão foi lá pro meio da testa, antes dele aceitar a oferta.

– Valeu! – ele assoprou, recebendo o salgadinho de um modo desanimado.

– Valeu também, Seth! – consegui agradecer, insatisfeita pelo que ele havia sido obrigado a fazer por mim. Voltei então pro lugarzinho onde estava antes.

Diário de bordo, primeiro dia de aula. Saldo até aqui: eu sendo desprezada totalmente pela parte feminina da minha sala, além de em meio a um descontrole emocional severo; Jared se entrosando com a parceira de álgebra; minha avó levando cantada de um carinha popular do time de futebol.

É, vamos dizer que ainda não estava tão ruim assim... Pensamento positivo, pensamento positivo!

~~

Meu Doritos acabou rapidinho e, depois que o palhaço número 1 do 2º ano se cansou de ficar chamando a atenção do refeitório inteiro, menos a da minha avó efetivamente, o sinal tocou para o retorno às salas e nós nos separamos outra vez. Quer dizer, meus pais, avó e tio. Seth teria aula de física com a gente. Que ótimo...

Acho que o que mais me irritava nesse cara era o fato de ele não tomar atitude nenhuma no sentido de se resolver com Lilly. Em vez disso, deixava ela se remoendo com um monte de incertezas, e mantinha essa postura totalmente abobalhada – a mesma destes últimos 7 anos, aliás. Ah, qual é... Nem todo o imprinting do mundo justificaria tanta incompetência assim! Esperava, sinceramente, não ter que passar por isso nunca.

– Ok, eu entendo que você não queira se sentar na minha mesa durante o intervalo... – Laura me assustou no meio do corredor. Ela tinha esse jeito estranho mesmo de se anunciar: tagarelando – Não vou te forçar a essa humilhação pública. Sem pressão!

Olhei pra ela e lá estava aquela expressão completamente incólume e peralta em sua face outra vez. A garota era, simplesmente, um mistério pra mim.

– Até parece... – eu sibilei, enquanto continuamos andando.

Não sei como ela entendeu essa minha fala, mas pareceu ficar contente. Eu me referi ao fato de que ela, a despeito da minha ausência, conseguiu se sentar em uma mesa até que bastante movimentada. Ela não era, de fato, o tipo de garota que seria deixada de canto, sob nenhuma circunstância. Mas eu acho que, da maneira que ela me entendeu, ficou acertado que a minha falta de consideração jamais se repetiria.

– Oi, eu sou Lillian, por sinal! – minha irmã esticou o braço na minha frente para cumprimentá-la – Seu eu for esperar pela educação do meu irmão, eu não vou a lugar algum nessa escola!

– Seu irmão?! – ela demonstrou surpresa.

– Pois é... nem tudo é perfeito, não é mesmo?! – Lillian repetiu a minha fala da sala de aula, só pra me perturbar.

– Ah, neste caso... muito prazer, Lillian “por sinal”! – a garota sorriu um sorriso recheado de ternura e descontração, recebendo o cumprimento. Acho que essa sua boa índole impressionou não só a mim, mas à própria Lilly (até agora acostumada apenas com frieza vinda do sexo feminino) – Eu sou Laura. Laura West. Seu irmão não deve ter falado de mim, eu suponho?!

– Falou sim! – Lilly a consertou, e então me lançou um olhar malévolo – Disse que gostou de você, e que você tem um papo com muito conteúdo!

Eu, sinceramente, não acreditei que essa pirralha tinha acabado de fazer isso comigo! E o pior é que eu nem poderia fazer nada a respeito, sem piorar as coisas... Laura me olhou com uma expressão ainda mais surpresa que a de antes e eu senti que estava começando a corar. “Eu te mato quando a gente chegar em casa, Lillian!” formulei esse aviso à mente oca da minha irmãzinha, que largou um risinho satisfeito e continuou a conversar com a garota até que chegamos na sala – eu entre elas o tempo todo, sem conseguir sair. Seth também foi apresentado e incluído na conversa, e o “sanduíche de Jared” ganhou mais volume.

– Eu vou ter aula de filosofia no prédio 03 agora! – Laura anunciou, no limiar da porta.

– Ah, que pena... Eu adorei você! Espero que vá lá em casa um dia desses, hein?! – Lillian disse. Essa pirralha destrambelhada realmente não tinha noção nenhuma na cabeça... Onde já se viu, convidar uma pessoa que ela mal tinha acabado de conhecer para ir à nossa casa?! E eu nem digo isso pelo fato de a nossa família ser como era... Ninguém faz esse tipo de coisa, sendo normal ou não! Mas esse era o retrato de alguém que estava com o nível de empolgação ligado no máximo. A pobre saciou boa parte da sua ânsia social reprimida naqueles poucos minutos de conversa de corredor com Laura.

– Sem problemas, Lilly! – ela disse, meio surpresa de novo, mas ainda assim sem perder o jeito amistoso – Então a gente se vê amanhã. Você também Seth, foi um prazer te conhecer!

– Igualmente, Laura! Até amanhã!

Minha irmã e seu namorado então terminaram de entrar na sala.

– O “até amanhã” foi pra você também, Jared! – Laura me alfinetou, já se afastando de costas para ir embora, o que não escapou aos ouvidos poderosos de Lilly, que espirrou um riso de onde estava.

– Até amanhã! – eu consegui projetar, com o timbre de voz errado. Ela sorriu com um olhar arteiro, se virou definitivamente e eu logo a perdi de vista entre o mar de alunos no corredor.

Inexplicavelmente, uma coisinha estranha me incomodou ao saber que ela não assistiria a próxima aula junto conosco. Ela, de algum modo, começou a me inspirar curiosidade. Mas que raios estava acontecendo comigo?! Eu só podia estar ficando doente mesmo! Isso era tudo culpa dessa bendita escola... eu disse que não queria vir!

– Ow, vai ficar aí na porta, Jared?! – Lilly inquiriu, com um tom maldoso.

Me despertei e tentei voltar rapidamente para o meu lugar também, antes que ela resolvesse chamar a atenção da classe inteira. Mas, na minha afobação, acabei esbarrando em um garoto e ele foi direto pro chão, tornando inúteis os meus esforços: todos acompanharam a cena, soltando exclamações automáticas. Ainda bem que o choque aconteceu quando eu ainda estava principiando o movimento, senão ele teria voado muito mais longe. Olhei em pânico para Lilly e Seth. Eles primeiro ficaram sem ação, mas depois me sinalizaram o garoto e eu então corri para oferecer depressa uma mão para ergue-lo do chão, antes que a coisa piorasse. Ele precisou catar seus óculos antes, que despencaram do rosto com o tombo.

– Aprenda a andar, monstrengo! – um outro garoto, provavelmente o mais metido a besta da sala, fez gozação do coitado e uma boa parte da turma riu daquela idiotice.

– Você está bem?! – eu perguntei a ele, tentando remediar o que tinha feito limpando um borrão que tinha manchado a sua blusa.

– Acho que sim... – ele fez uma afirmação tímida, pouco confiável. Na hora, eu o vi friccionando o cotovelo, pelo menos.

– É melhor nós irmos à enfermari...

– Não! – ele me interrompeu – Eu estou legal. Foi só o susto mesmo, está tudo bem!

– Tem certeza?! – eu insisti

– Ei, bom samaritano – percebi que o mesmo idiota de antes estava agora falando comigo –, tá na boa, esse daí é desajeitado por natureza. Deixa ele aí, que ele se “regenera” sozinho!

Outra sessão de risos bobos, que eu ignorei. Mas o coitado do menino ficou completamente sem graça diante de mim – como se, depois de tudo, fosse ele a pessoa que deveria se desculpar. Apesar de termos praticamente o mesmo porte, ele mantinha uma postura meio encurvada, como se pensasse que deveria caminhar a um nível mais baixo que o dos demais. Usava os cabelos pretos partidos simetricamente no meio, camisa pólo com um tamanho maior que o dele, calças jeans simples e tênis esporte. A pele tinha um tom pálido, meio doentio. Seu estilo de não atrair atenções se virava exatamente contra ele, marginalizando-o na turma como o “esquisito”. Alguém tinha que fazer alguma coisa pra melhorar a vida desta pobre alma, com urgência.

– Deixa eu te convidar, pelo menos, pra ser o meu companheiro de mesa então?! Essa aula parece que vai ser bem chata, e seria legal ter alguém pra conversar! – disse, não deixando de me sentir bem esquisito ao fazer um convite dessa natureza.

Ele estranhou inicialmente, mas não pelos mesmos motivos que eu, claro. Parecia apenas nunca ter recebido um tratamento parecido antes. Sorriu timidamente depois de uns 10 segundos e assentiu. Olhei outra vez para Lilly e Seth e recebi seus incentivos à minha “boa ação”, então nós dois seguimos juntos para a minha mesa. Aquele desfecho pareceu surpreender a todos.

O professor Spinoza chegou finalmente à sala. Teríamos aula de física nesse horário, em seguida eu teria aula de educação física – sozinho, graças a Deus –, e depois estaria livre outra vez. O simples pensamento já me encheu de felicidade.

– Ei... Jared, não é?! – um garoto sussurrou para mim e, quando me virei em sua direção, percebi que era o engraçadinho das provocações – Aquele tranco foi impressionante... Seria bom você fazer um teste para entrar no time, sabe?! Aperfeiçoar essa técnica, andar com as pessoas certas...

Ele indicou com o queixo o meu novo parceiro de mesa, evidenciando toda a sua arrogância, depois sorriu pra mim, querendo me oferecer sua cumplicidade suja. Só por ter que sentir na pele a nojeira que eram as suas emoções, eu tive vontade de largar um murro na cara dele. Mas, ao invés disso, concentrei toda a minha irritação na minha resposta:

– Não, obrigado. Se for pra andar com gente feito você, eu prefiro virar bailarina!

A cara de tacho que o cretino fez me deu a entender que ele levaria ainda alguns segundos mais, até perceber por completo a essência das minhas palavras. Me virei, sem intenção nenhuma de presenciar quando esse momento acontecesse.

Aquela mera frase me fez descarregar uma tonelada de raiva, e, de repente, eu até comecei a me sentir mais leve. Algo naquele dia realmente valeu a pena. Nem me preocupei com nada... Afinal, o que um palhaço como aquele poderia fazer contra mim?!

– Oi, meu nome é Jared! – disse, depois que me virei de volta para o garoto inseguro do meu outro lado, e lhe estendi a mão novamente, agora com outra finalidade.

– Friedrich Engels Wade! – ele vomitou aquele nome, envergonhado, em seguida retribuiu meu cumprimento.

Friedrich Engels?! O filósofo francês?! Oh, meu Deus... que tragédia!

– Sério?! – eu perguntei por impulso no meio do gesto, mas percebi um pouco tarde que aquilo o deixaria desconfortável outra vez. Droga, Jared, pare de ficar fazendo merda – Quer dizer... Sério que você se apresenta assim pras pessoas?! Dando o seu nome todo?!

Obviamente, ele percebeu a minha tentativa tosca de me concertar. Mas, incrivelmente, isso o fez esboçar um sorriso um pouco menos contrito, como seu eu tivesse incentivado a sua afeição com aquilo, mesmo com a falta de sutileza. Vivas!

– Acho que sim! – ele respondeu – Quer dizer, não que eu tenha costume de me apresentar a alguém. Nem me lembro qual foi a última vez que fiz isso, ou se já fiz isso alguma vez, na verdade...

– Sei. Mas, e então... Seus velhos gostam de história?! Friedrich Engels, quer dizer... é um nome com peso! – procurei demonstrar interesse. Não era muito fã de história.

– Meu pai é sociólogo e foi professor em Duke. Minha mãe foi a sua melhor aluna e eles acabaram tendo um romance de bibliotecas e palestras.

– Que legal! E você é o futuro sociólogo da família, certo Fred?!

Ele riu, depois balançou a cabeça negativamente:

– Eu quero ser engenheiro civil!

– Uau! Um caminho totalmente diferente!

– Com certeza! – ele reergueu com o dedo os óculos que estavam escorregando pelo nariz. Aquela era uma faceta típica de um nerd mesmo. Mas eu não tinha nada contra nerds. De fato, se era pra eu desenvolver uma amizade com alguém naquela escola, melhor que fosse mesmo com alguém tão estranho quanto eu.

A aula fluiu imperceptível em meio ao nosso papo e, quando eu pensei que não, o sinal tocou para a última aula. Me despedi de Fred e me dirigi à porta. No limiar, o babaca de antes – muito provavelmente, já cheio de raiva de mim – tentou me dar um travão com o ombro, pra retribuir o meu desprezo. Mas acabou apenas machucando si próprio, prendendo um gemido de dor, para não deixar que ninguém percebesse o seu ato estúpido. Ri interiormente. Acho que eu havia me enganado sobre a escola... Haveria muita diversão para mim, se eu apenas seguisse a minha vida normalmente.

Educação Física foi uma aula que se transformou mais em Educação Mental, já que constantemente eu tinha que me cuidar para não atingir as bolas – ou o corpo de alguém – com força demais. O “professor” Emmett embaraçosamente me nomeou como monitor da turma, ao que eu não pude me opor por mais de 5 segundos, por que senão eu chamaria ainda mais atenção pra mim. Dava pra sentir os olhares hostis da parte masculina da minha turma nas minhas costas – liderados pelo meu “amiguinho” recalcado – e, ao mesmo tempo, os olhares frívolos da parte feminina passeando pelo meu corpo inteiro.

Treinamos Handball e, na metade da aula, todas essas menininhas já estavam se equilibrando na arquibancada, implorando que eu ou Emmett socorrêssemos seus músculos “cansados”. Na verdade, o que elas queriam mesmo era mostrar umas às outras que conseguiriam ter a nossa atenção exclusiva para elas – outra coisa que estava começando a intensificar o ódio direcionado a mim pelos meus colegas machos. Eu nem cogitei a idéia de realizá-las nesse sentido, deixei que Emmet cuidasse de seus músculos. Imaginar a erupção emocional que qualquer toque meu provocaria no corpo daquelas garotas abrasadas já era suficiente para me provocar náuseas à distância mesmo.

Ao final de uma hora de alerta total, eu pude relaxar os nervos com o término definitivo das aulas. Estava livre agora para tomar uma bela ducha nos vestiários e esperar o resto da minha família terminar suas atividades também – a aula de educação física acabava mais cedo do que todas as outras.

Fui o primeiro a chegar aos chuveiros. Bom. Eu poderia, pelo menos, escolher o melhor deles – lá no fundo, escondido. Depositei meus pertences no armário coletivo e entrei no boxe. O burburinho eufórico dos demais garotos começou a se aproximar do local logo em seguida.

~~

Depois que o meu irmão foi para a sua aula na quadra 01, eu acho que consegui relaxar um pouco mais. Pelo amor de Deus, eu não tinha condições de permanecer tensa do jeito que eu estava – por mais que a principal razão para isso continuasse ali, do meu lado, prestes a me provocar um colapso nervoso com tantos cuidados. Mas o fato de Jared estar presente não contribuía muito para qualquer tipo de evolução da minha parte. Fiz uns exercícios de respiração e isso ajudou aos poucos o meu coração a alcançar um ritmo tolerável. Seth tinha que saber que eu ainda era uma pessoa equilibrada e racional. Eu tinha que direcionar o meu interesse a outra coisa, e depressa.

A aula seguinte, no entanto, não foi eficaz em cativar, nem o meu interesse, nem o de mais ninguém na nossa classe. Geografia. A professora Müller parecia uma daquelas generais nazistas, com seu porte alto, gordo e retesado do quadril pra cima, fino e em guarda do quadril pra baixo. A roupa social verde-musgo estava completamente atochada no corpo e o cabelo desbotado estava preso em coque, como o das mulheres alemãs nos filmes de segunda guerra mundial. A impressão que eu tive foi a de que qualquer um que interrompesse a sua explanação, mesmo que com uma dúvida, seria enxotado da sua aula direto para a sala da diretoria.

Por sorte, ela decidiu exibir um filme sobre atualidades globais à turma, ao invés de gastar todo o seu tempo discursando. Todas as luzes foram apagadas e ela se dirigiu para o fundo, possivelmente para ter uma visão mais geral – ou tirar um cochilo com um pouco de privacidade.

Mas o conteúdo do filme não agradou tão pouco, então decidi recostar a cabeça sobre a mesa. Que tristeza... meu primeiro dia de aula perfeito se tornou monótono e inquietante – basicamente, dois dos principais aspectos na argumentação feroz do meu irmão contra a idéia de virarmos estudantes. E o pior foi que ele até me pareceu estar se divertindo em alguns momentos. Tão injusto...!

Na escuridão da sala, uma mão quente inconfundível veio então afagar a minha orelha e, em seguida, se delongou na minha cabeça. Lá estava o Seth de novo, insistindo em ser o cavalheiro na redoma de ouro de sempre. Insistindo em me comprovar o quanto eu era incompetente na arte do autocontrole. Mas eu tinha que fazer isso... se não por mim, então por ele. Devia ser terrível estar... apaixonado... por alguém com um temperamento igual ao meu. Ai, Deus... era exatamente esse tipo de pensamento que eu tinha que evitar agora, pra não enlouquecer de vez! Respira, Lilly, respira!

Atrás de nós, percebi as emoções femininas se alterando freneticamente. Pra mim, estava na cara que eu havia me tornado a inimiga número 1 das garotas do 1º ano. Seth, provavelmente, era o cara mais bonito naquela sala em milhas, e ele parecia não enxergar outra coisa, a não ser “euzinha”, o tempo todo. Era preciso dar um desconto e ser compreensiva com a mentalidade das minhas coleguinhas então. Isso devia ser uma coisa muito dura pra elas encararem.

Dois segundos depois – assim eu imaginei –, a mão, antes na minha cabeça, passou a acariciar de leve o meu ombro. Só que de um jeito um pouco mais urgente dessa vez, apesar de extremamente delicado. Percebi que tudo ao redor só estava escuro ainda pelo fato de eu estar de olhos fechados, e não mais por conta das luzes apagadas.

Eu havia cochilado durante a aula toda. Seth, me fazendo carinho daquele jeito, não contribuiria mesmo para outra coisa! Ele estava agora tentando me acordar para irmos embora – minha mochila já pendurada junto com a dele em suas costas.

– Vamos Lilly, nós somos os únicos que ainda estamos aqui na sala, princesinha! – ele anunciou, o que me fez de repente dar um salto automático da carteira.

O quê?! Eu e ele, ali sozinhos?! Não... era demais para mim! Tínhamos que permanecer o maior período de tempo possível na companhia de outras pessoas. Ele, ultimamente, estava mantendo uma atitude diferente também – que o fazia parecer estar apenas aguardando por uma oportunidade para me dizer “algumas coisas”! E eu nem sequer conseguia pensar a respeito dessa possibilidade sem começar a suar frio.

Saí em disparada porta afora. Ele me alcançou tranquilamente já no corredor. Seu humor, pra minha sorte, estava ótimo como sempre, e ele parecia se divertir com cada uma dessas minhas trapalhadas bizarras.

Lillian” – a voz do meu irmão chamou por mim, e eu antecipei que ele falaria outra das suas idiotices, pra derrubar minha paciência ainda mais.

Mas sua voz estava enfraquecida... me pareceu que ele estava com problemas. Freei no final do corredor, para esperar que ele completasse a fala.

– O que foi, Lilly?! – Seth estranhou minha atitude, mantendo a porta da saída aberta para mim.

– Jared quis falar alguma coisa, mas de repente ele ficou mudo de novo. Me pareceu indeciso...

– Será que está com algum problema? – ele cogitou, mas sem uma preocupação demasiada na voz.

– Não sei... Deixa eu ver se ele fala comigo outra vez.

Três segundos depois:

Lilian... Por favor, venha até o vestiário masculino com uma muda de roupas.” – ele pediu, parecendo bastante deprimido.

Alguma coisa séria havia acontecido, para ele estar pedindo pela minha ajuda assim. Céus, o que seria desse garoto sem mim?!

– Jared está me pedindo pra ir até o vestiário masculino com uma muda de roupas pra ele.

– Estranho... o que será que aconteceu?

– Não faço idéia. Vamos lá comigo, ele pode estar com problemas.

Essa era uma possibilidade realmente digna de preocupação. Se alguém como ele estava precisando de qualquer tipo de ajuda, é por que algo de realmente grave havia acontecido. Tio Emmett deveria ter alguma roupa masculina sobrando para fins de urgência. Fomos em busca dele o mais depressa possível.

Agüenta aí, Jad. Já estamos chegando!” – disse, sabendo que ele não poderia me ouvir.

~~

Mas por que diabos Lillian estava demorando tanto a chegar?! Estava um frio de lascar ali dentro, com o aquecedor desligado e meu corpo úmido recebendo toda a frieza do vestiário vazio. Não quero nem saber... só tomaria banho dali pra frente na segurança do meu banheiro! Que ódio! Eu estava sentindo agora um ódio louco, capaz de me fazer derrubar todas as paredes daquele lugar.

Ao que parecia, eu estava completamente sozinho em um raio de, pelo menos, 150 metros. Emmett já devia ter saído para se encontrar com os outros no estacionamento, por que eu gritei feito um louco por alguém, mas ninguém veio ver o que estava acontecendo. Um corredor de uns 10 metros separava a quadra do interior do vestiário azul piscina – esse lugar que eu detestaria pelo resto da minha vida nas minhas lembranças, muito provavelmente. Mas eu nunca teria coragem de me locomover no sentido da saída, nas condições em que eu me encontrava. Não sei o que eu estava pensando ao me misturar com os idiotas da minha turma, sabendo que eles todos haviam virado meus inimigos depois da minha declaração arrogante ao líder deles, na sala de aula! Eu, provavelmente, pedi por isso que tinha acontecido...

Os babacas se aproveitaram da minha distração e deram sumiço em todos os meus pertences – incluindo as roupas penduradas na porta do meu chuveiro. Isso porque eu supus que seria melhor aguardar ali dentro, até que todos eles saíssem e eu pudesse ter o vestiário só pra mim de novo. Bem, no final das contas, eu consegui! Que ódio! Eu tinha coisas no meu Ipad que ainda não tinha colocado no backup do computador, e eu provavelmente nunca mais o veria, nem à minha mochila e caderno.

Demorou, pelo menos, uns 20 minutos desde o meu apelo à Lilly para que o meu socorro chegasse. A voz de Seth se anunciou no corredor de acesso ao vestiário, e logo depois ele apareceu com uma muda de roupas brancas nas mãos.

– O que aconteceu?! Por que você está aqui sozinho, nesse frio?! – ele perguntou, ao me ver naquele estado, sentado nu num banco e tremendo feito uma vara verde.

Eu suspirei e estendi a mão para que ele me atirasse logo a roupa. Ele fez isso, e eu percebi que se tratava de um uniforme extra do time de basquete. Ótimo, eu me sentiria bastante “confortável” naquela joça folgada...

– Emmet não conseguiu encontrar outra coisa. Desculpe. – ele noticiou, percebendo o meu descontentamento ao examinar as peças.

– Tudo bem, não tem problema... – menti. Eu ficaria muito atraente com as minhas partes íntimas frouxas naquele calção branco sem forro, nem suporte. Ainda bem que, a essa altura, o colégio já deveria estar praticamente despovoado.

Eu bem que poderia ter me vingado dos panacas que me fizeram isso, me transformando em pantera e os perseguido até o limite da exaustão deles. Mas isso seria uma idiotice ainda maior que a primeira... poria em xeque a segurança da escola – da cidade toda, na verdade – e a mesma poderia até ser interditada. Seria um tumulto grande demais por uma coisa tão inútil. Eu, sozinho, não seria capaz de mudar um sistema com séculos de existência, como era o das panelinhas influentes de atletas estúpidos. A melhor coisa a fazer seria nunca pôr os pés naquela escola outra vez. Achar, mesmo que por um segundo, que eu teria algum tipo de diversão ali dentro foi o meu pior engano. E daí se eles pensassem que haviam me derrotado?! No começo, eu já estava mesmo em busca de qualquer pretexto para me livrar dessa palhaçada... ninguém poderia me forçar a voltar, depois de algo assim ter acontecido, e eu não estava nem aí sobre como ficaria a minha imagem naquele lugarzinho insignificante! Com um pouquinho de chantagem emocional, eu conseguiria liberação para voltar a ser apenas o Jared Black de antes.

– Foram aqueles garotos da nossa turma que fizeram isso, não é?! – Seth não precisou do meu feedback para tirar as conclusões corretas.

Suspirei de novo e confirmei com a cabeça.

– Você não precisa se preocupar com isso. Amanhã, Emmett pode resolver esse assunto na diretoria!

– Eu agradeço a sua preocupação, Seth, mas isso não será necessário! Eu não tenho pretensão nenhuma de voltar para cá, depois de hoje! – anunciei, depois que terminei de me colocar naquele uniforme embaraçoso.

Ele não se dignou a contestar a minha decisão, mas não deixou de me lançar um olhar de preocupação. Por mais esquisito que isso fosse, ele sempre se preocuparia um pouco comigo do mesmo modo com que se preocupava com Lilly. E não era pra menos: ele nos viu nascer – literalmente.

– Jared, Seth – a voz de Emmett chegou do corredor até nós – andem logo! Edward já chegou e todo mundo está lá fora, esperando. Eu preciso trancar a quadra de novo!

A essa distância, meu avô já conseguia ler os meus pensamentos, se informar sobre o que havia acontecido e agora todos já deviam estar cientes dos fatos também. Isso não era, de um todo, ruim... Me pouparia o trabalho de ter que prestar os esclarecimentos eu mesmo! Me ergui sem vontade do banco e nós dois seguimos para a saída daquele lugar podre.

No meio do corredor, a minha raiva atingiu um nível tão alto, que se materializou em um soco na parede, que estilhaçou vários azulejinhos azuis. Aquela foi uma atitude bastante incomum à minha natureza – eu tinha uma tendência maior a reprimir sentimentos como raiva e indignação, transformando-os em descaso. Eu devo até ter assustado Seth com aquela grosseria. Quer prova maior do mal que aquela escola estava me fazendo?! Continuamos caminhando e ele só me deu um tapinha complacente no ombro, tentando enfeitar o momento e fazer parecer que o meu vandalismo não teria grandes conseqüências. Naquele primeiro e último dia da minha vida escolar, eu tinha mesmo que deixar a minha marca de alguma forma.

Até nunca mais, Forks High School!

9 comentários:

  1. Amei o cap ele ficou perfeito !!!!
    Ai coitado do Jared !!!!!!
    Posta logo o outro cap por favor q eu to super curiosa para saber o q vai acontecer!!!!!!!
    Bjsssssssssssssssssss!!!!!!!!!!!!!!

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  2. RAY querida ficou simplismente perfeito,adoravel,magnifico,deslumbrante,encantador,espetacular,divino e digno daquilo que espero encontar quando vc escreve.... você é realmente uma grande escritora parabens amiga de coração (quando vc tiver mais tempo lembre-se de mim e escreve mais por favor)pois agora é q vou ficar super curiosa pra saber se o jared vai voltar pra escola e o q vai acontecer com todos inclusive com a lilly e o seth mas desde já agradeço vc de ter postado o primeiro cap pra gente obrigada querida e muitos beijinhos vc merece

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  3. Maravilhoso!!!! Mas vou me unir ao coro das que pedem pra não demorar de postar o próximo, puuuuuurrrrrr favorrrrr!!!!!!!!!! O enredo é bom demais e a tensão é quse física.... Bom demais!!! Mas não a mata a gente, não!!! Tem previsão de quando sai o outro capítulo e com que frequência vai postar daqui pra frente??? Posta logo, please!!!! Bjks e parabéns...

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  4. Oi, Ray, vc é de Salvador???? Tb sou... Ficou massa o capítulo, parabéns!!! Bjks.

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  5. Oi, meus amores. Muito obrigada por todos os elogios. Eu peço desculpas pela demora... É que, apesar de a minha paixão por esacrever so aumentar, ultimamente o meu tempo livre só tem diminuido. É deprimente, eu sei! Mas vou me esforçar ao máximo para escrever com brevidade. Pretendo postar o dois até o final dessa semana.

    Não sei quem foi que perguntou acima se eu era de Salvador. Eu sou sim, mt prazer! E mt obrigada também.

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  6. eeeeeeeeee amiga q sdd
    de vc
    de suas fics
    ficou perfeito, muito, muito
    to curiosa com algumas coisas, q vou perguntar qdo te ver de novo kk
    nossa vc mudou tudo q ja li ate hoje, normalmente os filhos do jake e da nessie sao amigos, companheiros
    e a lilu e o jad brigando sempre é o maximo, vai ficar hilario
    e essa garota nova em, sera se esta com cara de romance?
    e o seth poxa se declara logo, to com o jad nesse ponto
    entao é isso
    q bom q vc apareceu e mesmo sabendo q vai demorar um poko estou esperando o proximo

    bjjss

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  7. ficou maravilhoso posta logo!!

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