quarta-feira, 8 de junho de 2011

Capítulo 01 - Salvando Você

Bem, por onde eu começo?!

Haha, que bonitinha essa pergunta pra se colocar em um começo de história, né?! Mas a gente sempre sabe por onde deve começar: pelas apresentações. Então, muito bem, é assim que eu farei.

O meu nome completo é Cha Dae Woong, mas pode me chamar de Woong pra facilitar. Por hora, tenho 21 anos e estudo artes cênicas em uma famosa universidade daqui da Coréia. E você pode até não levar fé, mas eu vou ser o próximo astro da ação que você verá nos cinemas. É só aguardar. Mas enfim...

Atualmente, não tenho uma namorada, mas isso está prestes a mudar. Tem uma garota chamada Eun Hye In, minha veterana no curso de artes cênicas, que é uma gracinha. E, do jeito que a coisa vai entre a gente, é bem capaz de eu me declarar pra ela muito em breve. Ela é inteligente, linda e popular. Ou seja, combina em tudo comigo! Por isso, não tem por que a gente não dar certo.

Fora ela, eu tenho um monte de pessoas bacanas ao meu redor, com quem sempre posso contar. Dentre elas, estão meus dois melhores amigos (fora Hye In): meu brother Kim Byung Soo e Ban Sun Nyeo, nossa espevitada coleguinha. Ok, cá entre nós, eu sei muito bem que ela tem uma quedinha por mim, já faz um tempo. Mas como eu poderia corresponder, sabendo que Byung Soo é completamente apaixonado por ela, desde o maternal?! Tá, ele é uma besta quadrada por não ser capaz de se declarar, mesmo já tendo tido meio milhão de chances... Mas eu não tenho a menor coragem de interferir nesse processo, então o melhor que faço por ele, em nome da nossa amizade, é fingir não saber sobre os sentimentos dela e rezar pra que eles se acertem algum dia.

E além deles, eu tenho ainda uma legião de fãs ao redor do campus – como já disse, sou muito popular por aqui. Todos me respeitam, me têm em alta conta. Sei que posso contar com a boa vontade deles a qualquer hora do dia.

Em casa, eu levo uma vida de rei. Meu avô é um completo pão duro, mas com jeitinho, eu sempre consigo dobrar seu caráter turrão e conseguir o quero dele. Por meus pais terem morrido quando eu ainda era muito pequeno, ele sempre me deu tudo que eu pedia: brinquedos, bichinhos de estimação, aulas de karatê, Jiu-Jitsu, Tae Kwon Do... e a lista segue. Enfim, ele é o melhor avô de todos.

Fora ele, minha família se resume a minha tia solteirona. Aliás, eu nem gosto de chamá-la assim. Na verdade, o caso é que, mesmo já tendo passado dos 35, ela ainda não encontrou o seu “príncipe encantado”, como ela mesma fala. Então, ela continua solteira, na esperança de um dia, realizar o seu maior sonho: se casar e viver feliz para sempre. Apesar de achar essa idéia realmente muito boba – constituir família, pra mim, só depois dos 40, igual ao Brad Pitt – eu faço de tudo para apoiá-la e lhe dar força no que ela precisar.

Muito bem, tendo feito as devidas apresentações, vamos seguir adiante com a história da minha vida, que embora eu não saiba ao certo como se desenrolará, espero que, no fim, dê tudo certo.

– CHA DAE WOOOOOONG! – Êpa, essa voz não me é estranha... Sim, é a voz do meu avô! Droga, acabei de me lembrar, ele deve estar furioso comigo, depois que descobriu que eu peguei o dinheiro que ele me deu para a mensalidade da universidade e paguei a última parcela do meu carro esporte.

– CHA DAE WOOOOOOOOOOOONG!

É, acho melhor fugir logo, antes que ele termine de atravessar o corredor e me encontre aqui no refeitório. Se eu for rápido, consigo chegar ao estacionamento antes que ele grite o meu nome mais uma vez.

Como esperado, consegui fugir e agora estou relaxando no interior do meu lindo carro. Aqui dentro estarei seguro, os vidros fumês não me denunciarão ao velho se ele vier aqui pra fora. Agora é só esperar que ele desista e vá embora depressa, antes da minha aula de história das artes começar.

Um “TOC TOC” na minha janela, de repente, me assusta.

Ih, sujou... minha tia também veio com ele. Rápido, travas elétricas. Rápido, chave na ignição. Rápido, pisar no acelerador.

Ufa, tô saindo a mil desse estacionamento. Que jeito, vou ter que perder a aula! De jeito nenhum vou ficar pelas redondezas... Agora que ela já sabe qual é o meu carro, vai contar ao meu avô e os dois vão me perseguir até o fim e me arrancar o couro fora. Tenho que fugir pra bem longe. Se possível, pra fora de Seul até.

Mas, pra onde ir?!

Bem, por enquanto não sei, mas vou continuar seguindo em frente. Esse carro é ótimo e o tanque está cheio. Dá pra atravessar o país, se eu quiser.

O celular tá tocando. É o Byung Soo:

– Fala, meu brother! Que é que manda?!

Dae Woong, você está vivo, cara?! O seu avô saiu ensandecido daqui agora, e está indo atrás de você, irmão?!

– Ah, você viu ele?!

Vi, sim. Aliás, o campus todo viu. Seu velho não é brincadeira, hein?! Se cuida por aí, cara. Fico cobrindo a sua retaguarda por aqui!

Droga, cara, que mico. Aishh, porque o vovô é assim?!

– Beleza, Byung Soo, a gente se vê outra hora. Tô na estrada agora, depois te ligo. E ah, anota os assuntos pra mim, certo?!

Já é, irmão! Sorte!

É, sorte... Eu vou precisar de muita sorte mesmo! Se eu bem sei, a essa altura, o velho já deve estar ligando para o banco e cancelando o meu cartão de crédito. Minha coisas ficaram no armário da sala e eu tô sem um tostão furado na carteira. Daqui a pouquinho, já vai ser noite. Dormir no carro, nesse frio, é suicídio. E agora?!

O jeito é continuar seguindo em frente, e em frente, e em frente. Já saí do centro da cidade e estou agora cruzando a fronteira... Tudo que me resta, daqui pra frente é o estradão vazio adiante de mim e uma tonelada de incertezas.

Meia hora depois...

Não sei por que eu continuo dirigindo em frente. Já não há sinal de perigo pra mim, uma vez que é impossível que o meu avô e tia tenham me seguido até tão longe. Então pra quê continuar com isso. É melhor eu voltar pra Seul e ficar escondido na casa do Byung Soo, até poder dar as caras no campus outra vez.

Ah, ótimo, só por que eu decidi voltar, começou a chover. Eu é que não vou dirigir debaixo desse toró... foi assim que eu e os meus pais sofremos aquele terrível acidente, do qual só eu consegui escapar com vida.

Mas e então, onde eu vou me abrigar?!

Êpa, o que é aquilo mais ali na frente? Parece ser... uma placa. É uma pousada?! Aqui, no meio desse nada?! Não, acho que é... deixa eu ler a placa...

“Monastério Yang Senkan”

É, que jeito... Se eu não posso ir para uma pousada de verdade por que estou duro, não serão os monges que irão me rejeitar. Ai, essa estrada lamacenta vai sujar todo o meu carro... Só quero não atolar aqui.

Lá mais adiante, parece haver gente. Dá pra ver algumas lâmpadas acesas ali. Vou estacionar e pedir por abrigo.

– Quem é você, jovem, e o que faz aqui há essas horas?! – pergunta-me um velho monge, o primeiro que me vê chegar meio ensopado do caminho entre o carro e a velha construção.

– Boa noite, senhor! – faço reverência, em sinal de respeito –Você poderia me oferecer abrigo por essa noite?! É que eu me perdi na estrada e o meu carro não pega...

Ok, eu serei castigado pelos céus por mentir para um monge! Mas, por que diabos eu não consigo só dizer a verdade, nenhuma vez?! Não é como se ele fosse se negar a me abrigar, de qualquer maneira.

– Claro, filho. Entre, você deve estar congelando de frio. Esse tempo não está brincadeira... Você teve sorte de nos encontrar aqui!

É, “sorte”! Bem que o Byung Soo me disse antes. Eu, de fato, acabei tendo muita sorte ao ter vindo parar num lugar assim, tão remoto.

– Obrigado, senhor! Olha, já que eu estou aqui, será que o senhor poderia me emprestar um celular, pra que eu possa ligar para o reboque?! Preciso voltar para Seul amanhã mesmo.

Menti outra vez. Eu DEFINITIVAMENTE serei castigado! Eu sei disso!

– Claro, como não. Mas aqui você não vai conseguir um bom sinal. Será melhor que você vá até o pequeno templo que fica ali mais adiante, sobre o rio. É depois da ponte, naquela direção. Venha, eu te darei um guarda-chuva antes.

Bem, no fim, eu não fui castigado. Muito pelo contrário, parece que a minha boa sorte não para de aumentar. Como se não bastasse ter sido ótimo eu ter vindo parar num monastério, ainda encontrei gente com celular por aqui. MARAVILHA!

Vou é ligar para o Byung Soo e avisar pra ele onde estou. Alguém precisa saber que eu ainda estou vivo e bem. Mas e esse sinal que não aumenta, hein?! Já caminhei até aqui, atravessei essa ponte no meio da chuva como o monge mandou, e nada de sinal?! Ah, encontrei, vou discar. Está chamando...

Olá?!

Ih, não é o Byun Soo... é uma voz de mulher que atendeu, doce e surpresa. Não parece ser a voz da Sun Nyeo tampouco, então eu devo ter discado o número errado. Vou tentar de novo. Isso é o que dá, ter os número gravados na agenda do celular e me acomodar nisso... Devo ter confundido algum dígito. Ok, vamos lá, está chamando outra vez.

Olá?!

Ah, não... de novo a mesma voz?!

Oh, não desligue, continue na linha. Eu quero que você faça uma coisa por mim.

Mas hãn?! Eu ouvi errado, ou tem uma mulher estranha querendo bater papo pelo celular a essas horas da noite?!

– Escuta, minha filha... eu sei que você deve achar isso legal e tal, mas eu não estou ligando de uma agência de namoro, então não confunda as coisas, ok?! Tô desligando, tchauzinho!

Eu não faria isso, se fosse você! – sua voz, de repente, soa muito firme e sombria e, não sei bem se foi pelo frio, mas eu me arrepio da cabeça aos pés.

– P-Por quê?! O que você pode fazer comigo daí, se eu desligar o telefone agora?! – ok, essa conversa está ficando muito esquisita. Meu coração está a mil por hora e meus cabelos já estão todos em pé.

Posso fazer muita coisa... Muito mais do que acelerar seu coração, ou arrepiar os seus pelos!

AI-MEU-DEUS!

AI-MEU-DEUSINHO-DO-CÉU!

Eu entendi errado, ou essa mulher acaba de ler os meus pensamentos?!

Isso mesmo, eu posso ler seus pensamentos, então me ouça atentamente e faça tudo o que eu te mandar fazer, está bem?!

Se está bem?! SE ESTÁ BEM?! TEM UMA MULHER LOUCA DE NÃO SEI AONDE, LENDO OS MEUS PENSAMENTOS!!!

– Olha, eu sinto muito, “srta. Psíquica”, mas não está bem não! E, independente do que você possa fazer comigo, eu vou desligar este celular agora! Adeus.

E pam, desligo mesmo! Imediatamente, sinto outro calafrio e a certeza de que acabei de cometer um grande erro. Por via das dúvidas, vou tirar a bateria desse celular. Pronto, agora não pode mais acontecer nada comigo, certo?!

“Errado” – a então voz explode na minha cabeça.

AI, NÃO! AI, NÃO!!!

E AGORA, O QUE EU FAÇO?!

“Exatamente o que eu te disser pra fazer!”

– EU NÃO VOU FAZER NADA! NADA! – começo a gritar que nem um louco para a chuva!

“Se você não fizer, então não terei outra escolha... senão, te matar!”

– M-ME MATAR?! AI, POR QUÊ?! POR QUÊ EU, HEIN?! MAS QUE DROGA, QUE DROGA! AH, JÁ SEI, ISSO É UM CASTIGO POR EU TER MENTIDO PARA O MONGE, NÃO É?! ESTÁ BEM, EU JÁ ENTENDI O RECADO. PEÇO PERDÃO PELA MINHA FALHA, AGORA ME DEIXE IR POR FAVOR! – a essa altura do meu pânico, eu já estou de joelhos na sacada do pequeno templo, implorando misericórdia ao nada.

“Tudo bem, eu te deixarei ir. Basta você me ajudar com uma coisinha!”

– QUALQUER COISA! EU FAÇO QUALQUER COISA!

“Isso mesmo, bom menino! Agora, olhe para o templo atrás de você. Está vendo a porta?!”

– ESTOU! ESTOU!

“Ótimo. Ok, entre por essa porta e caminhe até o altar. E pare de gritar tanto... você vai chamar a atenção de todos os monges até aqui. Eu prometo que nada de mau vai te acontecer, enquanto você estiver me obedecendo.”

A essa altura, eu acreditaria em qualquer coisa que essa voz infeliz me prometesse, só pra conseguir parar de choramingar que nem um imbecil. Melhor me levantar e encarar logo isso de uma vez.

Ponho a mão na maçaneta. A porta range do jeitinho macabro que eu sabia que ela rangeria. Do lado de dentro, está tudo escuro. Ai, eu detesto o escuro, mais do que tudo.

“Eu já lhe disse que nada de ruim irá te acontecer, garoto, não precisa ter medo. Basta você fazer o que eu digo, que tudo irá terminar bem pra nós dois!”

– Está bem... E agora o que eu faço?! – pergunto, com a voz baixa e trêmula. A dela, no entanto, parece bem ansiosa.

“Caminhe até o altar. Lá, você verá um desenho antigo, pendurado na parede.”

Daqui de onde estou, já consigo ver vagamente a moldura do desenho. Mas sua forma se mistura com outras milhares, projetadas pelas sombras do lugar. A pequena lamparina lá de fora está sendo balançada pela ventania, e os objetos aqui no lado interior, volta e meia, ganham formas sinistras nas paredes.

– Onde você está? Por que você mesma não pode fazer o que está me pedindo?

“Por enquanto, você não pode me ver. Agora pare de fazer perguntas e faça o que eu disse!”

– Está bem, está bem!

Continuo o meu trajeto até o lugar especificado por ela. Passo ante passo, atravesso o pequeno corredor e me dirijo até o altar, onde os traços do desenho em questão já começam a ficar bem definidos diante dos meus olhos assustados. Se trata de uma velha, sentada em uma rocha debaixo da sombra fresca de uma árvore, e ao seu lado, tem um cachorro lhe fazendo companhia.

“Ai, seu bobo, isso não é um cachorro. É uma raposa. RA-PO-SA! É muito diferente.”

– Ah, sim, claro, você tem toda razão. Que burrice a minha, confundir uma raposa com um cachorro. Mil perdões! Mas é por que ela está sem a cauda, então...

“Justamente, é por esse motivo que eu preciso da sua ajuda. Eu quero que você desenhe as caudas dela outra vez. Nove delas.”

– Mas, hein?! Você está me pedindo para depredar um patrimônio histórico?! Ah, mas isso é que não...

“FAÇA O QUE EU ESTOU MANDANDO, AGORA!”

Não seria possível descrever em palavras o quanto esse último berro dela me apavorou! Enfim, em menos de um seguindo, a caneta já está na minha mão, pronta para cumprir a sua ordem.

– Você disse nove caudas?!

“É, eu disse. Você é ruim de memória, hein?!”

Nem me preocupo em replicar a sua acusação. Já estou com a mão sobre o desenho, fazendo exatamente o que ela me pediu. Só espero não ser preso por causa dos caprichos dessa assombração.

1...

2...

3...

4...

5...

“Ai, seja mais rápido, você está demorando demais...”

A interrupção dela me faz errar o traço, e eu acabo fazendo um “ponto” bem na altura do ombro da raposa. Ok, continuando...

6, 7, 8...

... e 9!

– Pronto, está feit–

Nem consigo terminar a frase. Um estrondo, seguido por um vendaval fortíssimo invadem o pequeno templo, e tudo que eu consigo pensar em fazer é me jogar no chão e me proteger com meus braços. Os barulhos ao meu redor são como explosões potentes e, mesmo com os olhos fechados, tenho vislumbres de clarões muito intensos, como se raios estivessem caindo aqui dentro.

Droga, eu sabia que ia morrer, no exato minuto em que ouvi aquela voz soar dentro da minha cabeça!

Mais ou menos um minuto de vendaval depois, tudo repentinamente se acalma. Inclusive a chuva que antes caia lá fora, aparentemente, também cessou.

Me ergo, trêmulo e vacilante de medo e, ao olhar de volta para o desenho, o susto: a raposa e as nove caudas que eu tinha acabado de desenhar haviam sumido completamente!

– Essa não! ESSA NÃO! Não pode ser verdade. É, isso tudo só pode ter sido um sonho. Ou melhor, um pesadelo. Agora que eu acordei de verdade...Não resta dúvidas, ter vindo aqui foi um grande erro. Tenho que voltar pra Seul hoje mesmo!

Dito esse meu pequeno e apavorado monólogo, enfim, saio correndo do templo e atravesso a ponte sem nem olhar para trás. Tudo ao redor está assustadoramente calmo, mas o tempo todo eu tenho repiques de lembraça do pesadelo, e sinto uma força sombria à minha espreita, me observando com seus olhos famintos. Corro mais rápido ainda para completar o percurso até o carro.

Na agonia, acabei derrubando e esquecendo o celular do monge lá no chão do templo. Ah, ele que trate de encontrá-lo, eu vou é dar o fora desse lugar doido e é agora!

– Jovem, aonde você vai?! – o dito cujo me pergunta, ao longe, vendo-me correr como um desesperado até alcançar o meu veículo. Ponho depressa minha mão na maçaneta e abro a porta.

– Ah, é que eu não consegui falar com o reboque. E também, acabei me lembrando que eu tenho uma peça no porta luvas que pode servir para consertar o problema do meu carro! – essa última mentira entrou pra lista das minhas mentiras mais escabrosas, com certeza.

– Mas não tem nem dez segundos que você virou as costas e saiu daqui em direção ao templo, rapaz... Já deu tempo de você resolver isso tudo?!

Hein?! Mas do que esse velho está falando?!

– Err... É, eu já me resolvi sim, não se preocupe. Eu ficarei bem.

Tendo dito isso, entro no carro sem nem retribuir ao confuso aceno de despedida do velho para mim. Dou partida no carro e saio a mil, cantando pneu na lama. Ah, de repente, parece que tudo vai ficar bem. O interior desse carro, realmente, é capaz de operar milagres, mesmo eu estando tão abalado.

Mas... Êpa, o que é isso agora?!... Essa não, o motor está morrendo! Como assim, um carro novinho desses... que absurdo! E AGORA, O QUE EU FAÇO?! Já estou a, pelo menos, uns 200 metros do monastério, e tudo do lado de fora se resume a mato. Anda, carrinho! Pega, carrinho! Vamo lá, você consegue...

... e morreu de vez!

Ah, cara, eu estou sendo castigado mesmo! Por ter mentido para um monge, dizendo que o meu carro estava quebrado sem estar, agora ele quebrou de verdade! Dou uma porrada revoltada do volante, seguido de um suspiro deprimido. Eh, que jeito... vou ter que voltar a pé, nesse breu! Estou morto!

Saio do carro, tremendo que nem uma vara verde - mas não de frio. De pavor mesmo!

Meu pobre veículo terá de ficar aqui essa noite. Não tem jeito de alguém pensar em roubá-lo por essas bandas, então isso não será um problema. O problema agora é eu atravessar esses 200 metros assim, sozinho.

– Vamos lá, Cha Dae Woong, você consegue! Não tem ninguém aqui, você está sozinho. Qual é o risco, então?! É só contar até 10 e sair correndo. Em dois minutos, você chega lá.

Ditas essas baboseiras, me preparo para executar meus próprios comandos. Conto até dez, bem devagar, e então disparo de volta para o abrigo!

Mesmo sabendo que não tem ninguém atrás de mim nesse momento, corro como se estivesse fugindo de um leão faminto. Por causa dessa sensação de que estou sendo perseguido ainda não ter passado, não consigo pensar em outra palavra, além de “morte”!

Em meio à correria de volta, de repente, escuto um ruído e vejo uma pequena movimentação na minha frente, o que me faz frear no ato. Fico em silêncio para ver o que é, e nisso o meu coração se acelera ao limite máximo. O ruído vem de uma vegetação logo ali na frente, ao lado da estradinha de terra pela qual eu tenho que atravessar pra chegar ao meu destino. De jeito nenhum eu posso passar por ali, sem saber o que está escondido naquele mato.

Olho para o paredão de árvores ao meu lado e imagino se eu não seria capaz de ultrapassar o local, passando por dentro dele, ao invés de pela estrada aberta. É, acho que essa é a melhor solução mesmo. O que mais pode dar errado?! Tomo coragem e me impulsiono para fora da trilha e pra dentro das árvores.

O tapete de folhas reclama às minhas pisadas, fazendo mais barulho do que eu gostaria. Mas, se eu correr como antes, posso atravessar a distância que falta, sem atrair o que quer que seja aquilo até mim. Vamos lá: 1... 2...

...3!

Dou a largada na minha correria outra vez. Porém, passados menos de dois segundos, algo se engancha nos meus pés, me fazendo tropeçar. Ao cair, não encontro um apoio, então saio rolando ribanceira abaixo, me esbarrando em pedras e pequenos troncos. Não sou capaz de abrir meus olhos para enxergar nada. Apenas sinto o meu corpo girar, e girar, e bater, e girar, e girar...

E, então, uma pancada forte em minhas costas, e eu chego finalmente ao fundo da queda. Caído no chão, tudo se resume a dor e a falta de ar. Mesmo de olhos cerrados, sei que o meu corpo todo está ferido, principalmente nas costas, onde a dor é mais lacerante... como várias estacas cravadas em minha carne! Não consigo me mover, não consigo gritar por socorro. Um frio mortal começa a tomar conta de mim, se alastrando rapidamente.

É, no final das contas, eu acabei me dando mal mesmo. O meu instinto estava certo antes, quando falou de morte para mim. O meu instinto, e aquela voz. Aquela voz que, apesar de tremendamente assustadora, a princípio, me pareceu tão doce... Tão suave e inocente.

Já não consigo mais pensar em muita coisa. A minha vida toda nem está passando em flashbacks, como acontece nos filmes. É só o triste silêncio do fim, e a minha consciência, se afastando cada vez mais do tempo presente.

Mas, antes da escuridão total, ouço um último ruído se aproximar cautelosamente de mim. Penso ser algum animal, o que estava escondido antes, vindo se certificar de que a comida está prestes a morrer. Mas então, eu sinto um toque delicado suspender ligeiramente o meu corpo. Ele alisa o meu rosto devagar, e depois me envolve por completo num estranho manto de calor.

– Não posso te deixar morrer. Eu te prometi isso!

Pra minha surpresa, ouço a mesma voz de antes. Mas, dessa vez, ela não está ameaçadora. Está terna, como ouvi originalmente.

Por fim, sinto algo se aproximar da minha face e tocar os meus lábios, com uma leve e cândida pressão.

Um fogo urgente começa agora a descer pela minha garganta.

Um fogo...

Um fogo...

E então...

... a escuridão final.




Um comentário:

  1. Oi amore eu estou simplesmente maravilhada com a historia e admito que só comecei a ler por ser voce a autora da fic pois eu nao costumo ler esse tipo de leitura,
    mas tenho que admitir millll vezes que amei demais e serei uma leitora fervorosa e já estou apaixonada pela historia
    e desde já te parabenizo
    beijusss flor

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